No ano 2000 escrevi este texto sobre o Histórico da
fazenda Luiziânia:
“Por cima da mesa realizou-se o sorteio das terras da
Barrinha. Vovó Malisa comandava e ia lendo os nomes dos agraciados. A casa, com
curral e dependências saiu para Laura. Luiz ganhou os terrenos do Capão, lugar
onde o vovô Artur plantara um bambuzal quando por ocasião de seu noivado. Foi
uma grande lição de desapego para o Luiz que já estava acostumado a frequentar
a casa antiga todos os fins de semana. Ali ele repousava do sufoco da cidade,
esquecia os problemas da Escola de Medicina, e, deitado na rede passava os fins
de semana.
A sorte decidiu por todos nós e no dia imediato decidimos
a mudança, deixando para trás quadros e livros. Não sei porque, na pressa de
sair, o Luiz levou consigo um castiçal de bronze com uma vela e uma colher de
criança, lembranças da infância.
Luiz era uma pessoa afetiva, ligada ao passado, e para
ele foi doloroso deixar a fazenda. Era necessário, naquele momento, criar uma
nova sede no terreno que ganhamos no sorteio. Saímos à cavalo, Maurício e eu,
percorrendo as terras e ficou decidido que a casa seria construída no lugar da
antiga casa do Zé dos Santos. A vista era linda e havia possibilidade de água
no local. Coube ao Maurício, como arquiteto, desenhar e construir uma casinha
pequena, fogão de lenha na sala, varanda dando para a várzea, três quartos, sótão,
garagem. Ali passávamos os fins de semana e o Luiz pode novamente descansar nas
terras que lhe pertenciam, olhando as vaquinhas pastando na várzea. A última
vez que ali estivemos juntos vimos um disco voador parado em cima da casa.
Depois ele adoeceu e veio a falecer em agosto de 1977, três anos depois de
construída a casa.
Em 1978 viajei para a Índia acompanhando Maurício, Pá
e Joaquim. Em 1979 Euler celebrou seu casamento na roça na casa da Fazenda
Luiziânia. Euler e Iara ali residiram por algum tempo e a eletricidade foi
colocada na fazenda quando o Manoel nasceu. Esta foi a primeira fase da casa,
construída com simplicidade, fogão à lenha e luz de lampião. Ali foram criados
os três filhos de Euler e Iara, até o dia em que eles chamaram o Chiari para
desenhar a nova casa que foi construída logo acima.
Nossa casa se transformou mais tarde com a reforma de
1991, fruto da herança de mamãe. As terras já tinham sido divididas entre os
filhos e a casa, depois de pronta, com ateliê e dependência de empregados, área
para carros, etc, tornou-se um ponto de encontro da família.
Decidi também passá-la para o nome dos filhos para que
eles construíssem em torno se fosse o caso. O condomínio Luiziânia foi criado
para que a família pudesse se reunir no lugar onde sempre frequentamos nos fins
de semana. As notícias de que o mundo “ia se acabar” muito contribuíram para
acelerar o processo de construção e reforma da casa. Fiquei imaginando como
seriam os três dias de trevas anunciados pelos ETS e relatados com detalhes por
uma freirinha, criada no Uruguai, que conversara com os habitantes de outras
galáxias. Eles pediram para deixarmos a cidade e nos acamparmos na roça. Ali,
Artur e Regina construíram uma casa com galpões para realizarem seus seminários
de grupo Gurdjieff.
Lembrei -me de um vidente na Índia, que procuramos.
Ele lia o futuro em folhas de bambu. O vidente ia procurar no arquivo,
sentava-se em frente, não perguntava nada. “Vocês vão construir uma comunidade
no próximo milênio, num terreno herdado de seu marido...”
Desde os anos 40, minha arte tem sudo inspirada em
paisagens da fazenda. A minha fase figurativa documenta o movimento de uma
fazenda mineira com as idas e vindas dos carros de boi, as vacas sendo
ordenhadas como antigamente.
Acho que o Luiz, lá do alto, deve estar contente com a
nossa alegria.”
*Fotos de arquivo
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