segunda-feira, 3 de outubro de 2016

HISTÓRICO DA LUIZIÂNIA II

No ano 2000 escrevi este texto sobre o Histórico da fazenda Luiziânia:

“Por cima da mesa realizou-se o sorteio das terras da Barrinha. Vovó Malisa comandava e ia lendo os nomes dos agraciados. A casa, com curral e dependências saiu para Laura. Luiz ganhou os terrenos do Capão, lugar onde o vovô Artur plantara um bambuzal quando por ocasião de seu noivado. Foi uma grande lição de desapego para o Luiz que já estava acostumado a frequentar a casa antiga todos os fins de semana. Ali ele repousava do sufoco da cidade, esquecia os problemas da Escola de Medicina, e, deitado na rede passava os fins de semana.

A sorte decidiu por todos nós e no dia imediato decidimos a mudança, deixando para trás quadros e livros. Não sei porque, na pressa de sair, o Luiz levou consigo um castiçal de bronze com uma vela e uma colher de criança, lembranças da infância.

Luiz era uma pessoa afetiva, ligada ao passado, e para ele foi doloroso deixar a fazenda. Era necessário, naquele momento, criar uma nova sede no terreno que ganhamos no sorteio. Saímos à cavalo, Maurício e eu, percorrendo as terras e ficou decidido que a casa seria construída no lugar da antiga casa do Zé dos Santos. A vista era linda e havia possibilidade de água no local. Coube ao Maurício, como arquiteto, desenhar e construir uma casinha pequena, fogão de lenha na sala, varanda dando para a várzea, três quartos, sótão, garagem. Ali passávamos os fins de semana e o Luiz pode novamente descansar nas terras que lhe pertenciam, olhando as vaquinhas pastando na várzea. A última vez que ali estivemos juntos vimos um disco voador parado em cima da casa. Depois ele adoeceu e veio a falecer em agosto de 1977, três anos depois de construída a casa.

Em 1978 viajei para a Índia acompanhando Maurício, Pá e Joaquim. Em 1979 Euler celebrou seu casamento na roça na casa da Fazenda Luiziânia. Euler e Iara ali residiram por algum tempo e a eletricidade foi colocada na fazenda quando o Manoel nasceu. Esta foi a primeira fase da casa, construída com simplicidade, fogão à lenha e luz de lampião. Ali foram criados os três filhos de Euler e Iara, até o dia em que eles chamaram o Chiari para desenhar a nova casa que foi construída logo acima.

Nossa casa se transformou mais tarde com a reforma de 1991, fruto da herança de mamãe. As terras já tinham sido divididas entre os filhos e a casa, depois de pronta, com ateliê e dependência de empregados, área para carros, etc, tornou-se um ponto de encontro da família.

Decidi também passá-la para o nome dos filhos para que eles construíssem em torno se fosse o caso. O condomínio Luiziânia foi criado para que a família pudesse se reunir no lugar onde sempre frequentamos nos fins de semana. As notícias de que o mundo “ia se acabar” muito contribuíram para acelerar o processo de construção e reforma da casa. Fiquei imaginando como seriam os três dias de trevas anunciados pelos ETS e relatados com detalhes por uma freirinha, criada no Uruguai, que conversara com os habitantes de outras galáxias. Eles pediram para deixarmos a cidade e nos acamparmos na roça. Ali, Artur e Regina construíram uma casa com galpões para realizarem seus seminários de grupo Gurdjieff.

Lembrei -me de um vidente na Índia, que procuramos. Ele lia o futuro em folhas de bambu. O vidente ia procurar no arquivo, sentava-se em frente, não perguntava nada. “Vocês vão construir uma comunidade no próximo milênio, num terreno herdado de seu marido...”

Desde os anos 40, minha arte tem sudo inspirada em paisagens da fazenda. A minha fase figurativa documenta o movimento de uma fazenda mineira com as idas e vindas dos carros de boi, as vacas sendo ordenhadas como antigamente.

Acho que o Luiz, lá do alto, deve estar contente com a nossa alegria.”

*Fotos de arquivo

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