terça-feira, 19 de dezembro de 2017



CARTA DA ÍNDIA PARA A FAMÍLIA I


Todos vocês,

Pensando em todos. Estamos longe mas muito perto. Quando vemos coisas lindas, nos lembramos de vocês. Seria tão bom se pudéssemos ver tudo isto juntos!

Estamos voltando de um casamento indiano. Entramos de penetra, Eliana e eu, atraídas pelas luzes e a música. O noivo entrava à cavalo, com turbante, feito um príncipe de mil e uma noites. O cavalo todo coberto de mantas bordadas de pedrarias. Tudo brilhava em volta. As árvores com luzinhas como árvores de Natal, as mulheres com sáris bordados de dourado e contas. Fomos entrando, de calças compridas, máquina à tiracolo, sem perceber que estávamos completamente fora do ambiente. Mas os indianos são amabilíssimos com os estrangeiros. Participamos da festa, ofereceram-nos frutas, doces, café e ...laranjada com sal!

“Vê se arranja uma sem sal pra nós, pedimos ao garçon”. Fizeram uma especial. Cercaram-nos; queriam saber como são os casamentos no Brasil, se os noivos vão morar com os pais. Aqui fazem “Join family”. 

Mas é tudo tão diferente que nem dá para explicar, só vendo. A noiva vem de vermelho, recebe guirlandas de rosas, flores amarelas. Depois sentam-se os 2 no chão debaixo de uma tenda de flores e os convidados sentam-se também sobre tapetes persas. O padre canta, as senhoras cantam. Os noivos comem, bebem, um fogo aceso no chão, vários potes com folhas e sementes. O casamento se realiza quando amarram a faixa do noivo no sári da noiva. Os pais também amarram os dedos. As famílias estão juntas. Correm potes cheios de rupias e amarram o dinheiro na faixa do noivo (para ter sempre cheio). A gente não entende nada. É deslumbrante, cheia de imprevistos esta festa de casamento... Vou despedir, são quase 3 horas da madrugada. A festa terminou às 2 e é aqui no hotel onde estamos. Abraços,

Helena

*Fotos de arquivo


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segunda-feira, 11 de dezembro de 2017


CARTA DA ÍNDIA PARA ARTUR II

Caro filho Artur,

Descobri este jeito de unir meu desenho com estes papéis indianos,
Fazendo síntese Oriente – Ocidente.

Tudo bem por aqui. Faz parte da minha yoga ouvir um pouco de música num instrumento bonito, os mantras ajudando a gente a relaxar e encontrar a paz interna.

Meu professor conhece um mestre de flauta em Madras e já está procurando se informar de alguma coisa para você no futuro.

Como vai de Retiro das Pedras? Escreva contando notícias daí, se está tudo bem.
As flores daqui são as mesmas daí. Dá muito buganville, o coqueiro, cravo de defunto e todas essas florzinhas amarelas do Retiro.

Uma coisa maravilhosa é o espaço. Há espaço nas praças, nos parques, as cidades crescem em horizontal, poucos prédios, nenhuma especulação imobiliária.

Krishna e Radha, famosos deuses do amor estão aí para ajudar vocês.

Um beijo de sua mãe,
Helena

*Fotos de arquivo


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terça-feira, 5 de dezembro de 2017


CARTA DA ÍNDIA PARA ARTUR I

Caro filho Artur,

Escreva-me contando notícias daí. Tenho descansado bastante, lido e investigado aos poucos o mistério deste povo. São tão carinhosos com a gente aqui no hotel. O povo é simpático, tem sempre um sorriso cordial para os ocidentais como nós, entrosados com eles. 
Escuto música oriental aqui no quarto mesmo e meu professor de yoga toca “veena” todas as tardes e canta “ragas”. Suas aulas são dadas no terraço da casa, com macacos pulando nos coqueiros...

Resolvi escrever sem condicionamento as minhas cartas. Dá mais trabalho para ler, mas, para que ter pressa? Este negócio de pressa só serve para apressar a gente à toa. Acho melhor desenhar e bordar as cartas. Por enquanto minhas tintas estão guardadas, não pintei nada.

Helena

*Fotos de arquivo


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domingo, 26 de novembro de 2017


CARTA DA ÍNDIA PARA IVANA
Vaninha querida,

Não tenho notícias daí e as saudades estão bem acesas. 
Já aderi ao sári, pois não tem ninguém de ocidental aqui. Gostam da gente, têm muito carinho, pois raramente os ocidentais se misturam com eles feito nós. Estou até aprendendo palavras da língua deles. Estamos no hotel ainda, mas tudo bem, as tensões estão indo embora, graças a Deus.

 Maurício está entusiasmado com o trabalho, cada dia descobre alguma coisa nova para ser acrescentada, e os olhos brilham. 

Fico vendo com alegria o que é ser artista da vida, estender a criatividade para todos os setores. Felizmente vocês receberam um impulso, agora se largam sozinhos. Idéias é que não faltam...


Penso em você e no quanto deve estar apertada com a mudança e os negócios. Se houver algum problema mande me avisar. Estou longe mas ganhando em compreensão de mim mesma e do mundo. A vida nos separou por algum tempo, mas creio que todos iremos lucrar com isto.


Beijos de sua mãe,
Helena

*Fotos de arquivo

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segunda-feira, 20 de novembro de 2017


CARTA DA ÍNDIA PARA O EULER

Euler,

Este desenho é para você lembrar que se puser um turbante vira indiano mesmo. Sua carinha foi lembrada ontem na rua, quando passou um igualzinho a você. Tá vendo!

Você que gosta de bichos, deveria ver o quanto eles são livres aqui. De repente passa uma vaca, vários bezerros e o trânsito pára. Macacos nem se fala, são familiares. Acho que o curso de veterinária deve ser melhor que o daí. Quem sabe você também ainda aparece?

Estamos curtindo as cartas. Xinho prega os selos e eu desenho. Como é gostoso fazer síntese Oriente – Ocidente sem preocupação de vendas, etc.

O legal é fazer como eles, bordar as cartas. Se vocês quiserem guardar de lembrança, só passando a ferro.

Helena

*Fotos de arquivo


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terça-feira, 7 de novembro de 2017


BISNETOS ARTISTAS

 Meus filhos
Pintaram
Os muros
Do fundo
Do meu quintal.
Fizeram música
Teatro
Filmes
Fotografias
Palestras
Pesquisas históricas
E ecológicas.
Viajaram
Pelo mundo
Criaram hortas
Orgânicas.
Meus netos
Se expandiram
Pela América
Europa e Ásia
Levando o Brasil
Para longe.
De  Veneza
A Tokyo
Sua arte
Demonstrou
Que os jovens
Estão criando
Em Minas Gerais.
Viajar é preciso
Para conhecer
O mundo.
Mas voltar
É necessário
Porque nossa
Terra é aqui.
Meus bisnetos
Usando pincéis
E tintas pintaram
Seus quadros novos
Sobre os meus antigos.
E as telas
Repintadas
Retrabalhadas
Renovadas
Estão dando
Um novo uso
Para aquilo
Que estava
Em desuso.
No momento
Eles revivem
Os passos
Da bisavó.
Vejo com muita
Alegria
Meus bisnetos
Pintando
Cantando
Dançando
Esculpindo
Desenhando
E também
Fazendo colagens.
A vida vai
Trazendo
O novo a
Cada instante.
A busca
Da expressão
Continua
Pelo tempo
Transpondo
Gerações.
Esta geração
De artistas
Mirins
Está produzindo
Coisas lindas
Usando como
Referência
A bisavó.
Bisa significa
Bis
Dar continuidade.
E hoje vejo
Meus bisnetos
Mãozinhas sujas
De tinta.
Compenetrados
Atentos
Repetindo o que
Eu fazia
Quando era
Da idade deles.
A eterna roda
Da vida
Vai girando
E produzindo
Vai criando
E renovando
A monotonia
Do dia a dia.

*Fotos de arquivo


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segunda-feira, 16 de outubro de 2017


MINHA PRIMEIRA VIAGEM À FAZENDA DA BARRINHA

Barrinha, 8 de novembro de 1945

Queridos pais,

Espero que todos aí de casa estejam sem novidades. Chegamos bem, tendo feito ótima viagem, muito mais curta do que se esperava. Almoçamos em casa da madrinha de Laura, uma irmã do pai dela, que mora numa chácara, perto da cidade. Desde o começo senti logo a diferença das cidades grandes. 

Não conheci propriamente João Ribeiro, mas seus arredores. Lugares lindos, cheios de riachos e bambuzais e casas antigas enormes. A chácara de D. Alzira é uma dessas casas antigas com salas em quantidade e maior número de quartos, para uma pessoa só morar. Fiquei encantada com a dona da casa. Recebeu-nos muito bem, com tanta simplicidade como se fossemos longamente conhecidas. Lá passamos o dia e viemos para a fazenda de tardinha. Andamos uma hora à cavalo, porque viemos bem devagar para não ficarmos cansadas.

Seu Artur foi buscar-nos na cidade, trazendo os cavalos. Eu, que estava um tanto preocupada porque ainda não o conhecia, com medo de desagradar, fiquei logo mais à vontade depois de conhecê-lo, porque ele também tem a mesma gentileza da D. Alzira. Escolheu o cavalo mais mansinho para mim e foi conversando comigo o tempo todo da viagem. Quando chegamos na fazenda, já estava muito mais animada.

Estou escrevendo agora, no quarto da Lourdes Andrés. Depois do almoço já demos uma volta enorme à pé, pelo pomar. Chupamos jabuticabas , daquelas enormes de 4 centímetros e meio de diâmetro (medidos por Laura), e depois de muito conversar , vim escrever. Imaginem se estivesse aí em Belo Horizonte, estava justamente saindo da mesa do almoço.

Bem em frente da casa tem uma várzea enorme, cheia de capim verdinho, onde pastam os animais. Neste momento lá longe, pela janela eu estou apreciando as vacas e bezerros que, em enorme quantidade, passeiam no gramado, (isto é, capim).

A vista é uma beleza e pretendo logo que descansar um pouco mais, aproveitar para tirar umas pinturas daqui.

Acho que, pelo jeito, vou engordar como nunca. Como muito e até tomei leite cru, hoje de manhã.

Lourdes escreveu? Pretendo responder-lhe a cartinha em breve.

Abraços saudosos aos meninos, e para vocês dois, um maior.

Da filha,

Helena (Carta endereçada aos meus pais, Euler e Nair em 1945)

*Fotos de arquivo


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terça-feira, 10 de outubro de 2017


TEMPLO DE SHIVA LINGAM

O templo de Shiva Lingam, dedicado à energia criadora, foi construído pelos antigos numa praia belíssima ao sul do Golfo de Bengala. É cavado num só bloco de pedra, sem emendas. Imagens em granito circundam o templo, representando Shiva e sua esposa. A pedra foi cavada com amor e carinho por mãos anônimas, reverenciando os deuses de antigamente. 

A Índia não perdeu a ligação com o passado. Passado e presente estão unidos num todo, o eterno agora. A força do símbolo é uma constante. A imagem emerge da pedra talhada, como se desta pedra emergissem seres ligados a antigas civilizações. Os hindus têm necessidade de imagens para dar forma à sua necessidade mística de devoção. 

Imagino o quanto de trabalho, talvez de gerações seguidas, para se construírem esses templos. A pedra é dura e, para ser partida, o sistema egípcio foi usado: pequenos orifícios onde colocavam madeira umedecida. Com a mudança de temperatura a madeira inchava ou contraía, provocando o rompimento da pedra. As formas humanas foram esculpidas com a força do instrumento, na base do martelo. Não havendo máquinas, toda energia era a humana, fluindo dos braços, deixando a forma surgir no espaço. Quantos anos foram necessários para esse contato direto com a pedra, transmutando o interior das rochas, das cavernas, recortando bichos e homens, elevando escadarias por onde sobem os devotos e transeuntes. 

Turistas, querendo o flash do momento, procuram captar em suas câmeras, o que levou centenas de anos para ser construído. Houve um impulso conduzindo as diversas mãos para a edificação desses famosos templos, uma energia espiritual circulando na pedra.(Trecho de diário de viagens, 1992)

*Fotos de arquivo e da internet

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terça-feira, 3 de outubro de 2017


CARTA DA ÍNDIA PARA IVANA

Vaninha querida,

Não tenho notícias daí e as saudades estão bem acesas. Já aderi ao sári, pois não tem ninguém de ocidental aqui. Gostam da gente, têm muito carinho, pois raramente os ocidentais se misturam com eles feito nós. Estou até aprendendo palavras do Canadá, língua deles.

 Estamos no hotel ainda, mas tudo bem, as tensões estão indo embora, graças a Deus. Maurício está entusiasmado com o trabalho, cada dia descobre alguma coisa nova para ser acrescentada, e os olhos brilham. 

Fico vendo com alegria o que é ser artista da vida, estender a criatividade para todos os setores. Felizmente vocês receberam um impulso, agora se largam sozinhos. Idéias é que não faltam...

Penso em você e no quanto deve estar apertada com a mudança e os negócios. Se houver algum problema mande me avisar. Estou longe mas ganhando em compreensão de mim mesma e do mundo. A vida nos separou por algum tempo, mas creio que todos iremos lucrar com isto.

Beijos de sua mãe,
Helena


*Fotos de arquivo

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