Artista plástica, ex-aluna de Guignard. Maria Helena Andrés tem um currículo extenso como artista, escritora e educadora, com mais de 60 anos de produção e 7 livros publicados. Neste blog, colocará seus relatos de viagens, suas reflexões e vivências cotidianas.
terça-feira, 19 de dezembro de 2017
CARTA DA ÍNDIA PARA A FAMÍLIA I
Todos vocês,
Pensando em todos. Estamos longe mas muito perto.
Quando vemos coisas lindas, nos lembramos de vocês. Seria tão bom se pudéssemos
ver tudo isto juntos!
Estamos voltando de um casamento indiano. Entramos
de penetra, Eliana e eu, atraídas pelas luzes e a música. O noivo entrava à
cavalo, com turbante, feito um príncipe de mil e uma noites. O cavalo todo
coberto de mantas bordadas de pedrarias. Tudo brilhava em volta. As árvores com
luzinhas como árvores de Natal, as mulheres com sáris bordados de dourado e
contas. Fomos entrando, de calças compridas, máquina à tiracolo, sem perceber
que estávamos completamente fora do ambiente. Mas os indianos são amabilíssimos
com os estrangeiros. Participamos da festa, ofereceram-nos frutas, doces, café
e ...laranjada com sal!
“Vê se arranja uma sem sal pra nós, pedimos ao
garçon”. Fizeram uma especial. Cercaram-nos; queriam saber como são os
casamentos no Brasil, se os noivos vão morar com os pais. Aqui fazem “Join
family”.
Mas é tudo tão diferente que nem dá para explicar, só vendo. A noiva
vem de vermelho, recebe guirlandas de rosas, flores amarelas. Depois sentam-se
os 2 no chão debaixo de uma tenda de flores e os convidados sentam-se também
sobre tapetes persas. O padre canta, as senhoras cantam. Os noivos comem,
bebem, um fogo aceso no chão, vários potes com folhas e sementes. O casamento
se realiza quando amarram a faixa do noivo no sári da noiva. Os pais também
amarram os dedos. As famílias estão juntas. Correm potes cheios de rupias e
amarram o dinheiro na faixa do noivo (para ter sempre cheio). A gente não
entende nada. É deslumbrante, cheia de imprevistos esta festa de casamento...
Vou despedir, são quase 3 horas da madrugada. A festa terminou às 2 e é aqui no
hotel onde estamos. Abraços,
Helena
*Fotos de arquivo
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segunda-feira, 11 de dezembro de 2017
CARTA DA ÍNDIA PARA ARTUR II
Caro filho Artur,
Descobri este jeito de unir meu desenho com estes
papéis indianos,
Fazendo síntese Oriente – Ocidente.
Tudo bem por aqui. Faz parte da minha yoga ouvir um
pouco de música num instrumento bonito, os mantras ajudando a gente a relaxar e
encontrar a paz interna.
Meu professor conhece um mestre de flauta em Madras
e já está procurando se informar de alguma coisa para você no futuro.
Como vai de Retiro das Pedras? Escreva contando
notícias daí, se está tudo bem.
As flores daqui são as mesmas daí. Dá muito
buganville, o coqueiro, cravo de defunto e todas essas florzinhas amarelas do
Retiro.
Uma coisa maravilhosa é o espaço. Há espaço nas
praças, nos parques, as cidades crescem em horizontal, poucos prédios, nenhuma
especulação imobiliária.
Krishna e Radha, famosos deuses do amor estão aí
para ajudar vocês.
Um beijo de sua mãe,
Helena
*Fotos de arquivo
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terça-feira, 5 de dezembro de 2017
CARTA DA ÍNDIA PARA ARTUR I
Caro filho Artur,
Escreva-me contando notícias daí. Tenho descansado
bastante, lido e investigado aos poucos o mistério deste povo. São tão
carinhosos com a gente aqui no hotel. O povo é simpático, tem sempre um sorriso
cordial para os ocidentais como nós, entrosados com eles.
Escuto música
oriental aqui no quarto mesmo e meu professor de yoga toca “veena” todas as
tardes e canta “ragas”. Suas aulas são dadas no terraço da casa, com macacos
pulando nos coqueiros...
Resolvi escrever sem condicionamento as minhas
cartas. Dá mais trabalho para ler, mas, para que ter pressa? Este negócio de
pressa só serve para apressar a gente à toa. Acho melhor desenhar e bordar as
cartas. Por enquanto minhas tintas estão guardadas, não pintei nada.
Helena
*Fotos de arquivo
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domingo, 26 de novembro de 2017
CARTA DA ÍNDIA PARA IVANA
Vaninha querida,
Não tenho notícias daí e as saudades estão bem
acesas.
Já aderi ao sári, pois não tem ninguém de ocidental aqui. Gostam da
gente, têm muito carinho, pois raramente os ocidentais se misturam com eles
feito nós. Estou até aprendendo palavras da língua deles. Estamos no hotel
ainda, mas tudo bem, as tensões estão indo embora, graças a Deus.
Maurício está
entusiasmado com o trabalho, cada dia descobre alguma coisa nova para ser
acrescentada, e os olhos brilham.
Fico vendo com alegria o que é ser artista da
vida, estender a criatividade para todos os setores. Felizmente vocês receberam
um impulso, agora se largam sozinhos. Idéias é que não faltam...
Penso em você e no quanto deve estar apertada com a
mudança e os negócios. Se houver algum problema mande me avisar. Estou longe
mas ganhando em compreensão de mim mesma e do mundo. A vida nos separou por
algum tempo, mas creio que todos iremos lucrar com isto.
Beijos de sua mãe,
Helena
*Fotos de arquivo
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segunda-feira, 20 de novembro de 2017
CARTA DA ÍNDIA PARA O EULER
Euler,
Este desenho é para você lembrar que se puser um
turbante vira indiano mesmo. Sua carinha foi lembrada ontem na rua, quando
passou um igualzinho a você. Tá vendo!
Você que gosta de bichos, deveria ver o quanto eles
são livres aqui. De repente passa uma vaca, vários bezerros e o trânsito pára.
Macacos nem se fala, são familiares. Acho que o curso de veterinária deve ser
melhor que o daí. Quem sabe você também ainda aparece?
Estamos curtindo as cartas. Xinho prega os selos e
eu desenho. Como é gostoso fazer síntese Oriente – Ocidente sem preocupação de
vendas, etc.
O legal é fazer como eles, bordar as cartas. Se
vocês quiserem guardar de lembrança, só passando a ferro.
Helena
*Fotos de arquivo
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sexta-feira, 10 de novembro de 2017
terça-feira, 7 de novembro de 2017
BISNETOS ARTISTAS
Meus filhos
Pintaram
Os muros
Do fundo
Do meu quintal.
Fizeram música
Teatro
Filmes
Fotografias
Palestras
Pesquisas históricas
E ecológicas.
Viajaram
Pelo mundo
Criaram hortas
Orgânicas.
Meus netos
Se expandiram
Pela América
Europa e Ásia
Levando o Brasil
Para longe.
De Veneza
A Tokyo
Sua arte
Demonstrou
Que os jovens
Estão criando
Em Minas Gerais.
Viajar é preciso
Para conhecer
O mundo.
Mas voltar
É necessário
Porque nossa
Terra é aqui.
Meus bisnetos
Usando pincéis
E tintas pintaram
Seus quadros novos
Sobre os meus antigos.
E as telas
Repintadas
Retrabalhadas
Renovadas
Estão dando
Um novo uso
Para aquilo
Que estava
Em desuso.
No momento
Eles revivem
Os passos
Da bisavó.
Vejo com muita
Alegria
Meus bisnetos
Pintando
Cantando
Dançando
Esculpindo
Desenhando
E também
Fazendo colagens.
A vida vai
Trazendo
O novo a
Cada instante.
A busca
Da expressão
Continua
Pelo tempo
Transpondo
Gerações.
Esta geração
De artistas
Mirins
Está produzindo
Coisas lindas
Usando como
Referência
A bisavó.
Bisa significa
Bis
Dar continuidade.
E hoje vejo
Meus bisnetos
Mãozinhas sujas
De tinta.
Compenetrados
Atentos
Repetindo o que
Eu fazia
Quando era
Da idade deles.
A eterna roda
Da vida
Vai girando
E produzindo
Vai criando
E renovando
A monotonia
Do dia a dia.
*Fotos de arquivo
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segunda-feira, 16 de outubro de 2017
MINHA PRIMEIRA VIAGEM À FAZENDA DA BARRINHA
Barrinha, 8 de novembro de 1945
Queridos pais,
Espero que todos aí de casa estejam sem novidades.
Chegamos bem, tendo feito ótima viagem, muito mais curta do que se esperava.
Almoçamos em casa da madrinha de Laura, uma irmã do pai dela, que mora numa
chácara, perto da cidade. Desde o começo senti logo a diferença das cidades
grandes.
Não conheci propriamente João Ribeiro, mas seus arredores. Lugares lindos,
cheios de riachos e bambuzais e casas antigas enormes. A chácara de D. Alzira é
uma dessas casas antigas com salas em quantidade e maior número de quartos,
para uma pessoa só morar. Fiquei encantada com a dona da casa. Recebeu-nos
muito bem, com tanta simplicidade como se fossemos longamente conhecidas. Lá
passamos o dia e viemos para a fazenda de tardinha. Andamos uma hora à cavalo,
porque viemos bem devagar para não ficarmos cansadas.
Seu Artur foi buscar-nos na cidade, trazendo os
cavalos. Eu, que estava um tanto preocupada porque ainda não o conhecia, com
medo de desagradar, fiquei logo mais à vontade depois de conhecê-lo, porque ele
também tem a mesma gentileza da D. Alzira. Escolheu o cavalo mais mansinho para
mim e foi conversando comigo o tempo todo da viagem. Quando chegamos na
fazenda, já estava muito mais animada.
Estou escrevendo agora, no quarto da Lourdes Andrés.
Depois do almoço já demos uma volta enorme à pé, pelo pomar. Chupamos
jabuticabas , daquelas enormes de 4 centímetros e meio de diâmetro (medidos por
Laura), e depois de muito conversar , vim escrever. Imaginem se estivesse aí em
Belo Horizonte, estava justamente saindo da mesa do almoço.
Bem em frente da casa tem uma várzea enorme, cheia
de capim verdinho, onde pastam os animais. Neste momento lá longe, pela janela
eu estou apreciando as vacas e bezerros que, em enorme quantidade, passeiam no
gramado, (isto é, capim).
A vista é uma beleza e pretendo logo que descansar
um pouco mais, aproveitar para tirar umas pinturas daqui.
Acho que, pelo jeito, vou engordar como nunca. Como
muito e até tomei leite cru, hoje de manhã.
Lourdes escreveu? Pretendo responder-lhe a cartinha
em breve.
Abraços saudosos aos meninos, e para vocês dois, um
maior.
Da filha,
Helena (Carta endereçada aos meus pais, Euler e Nair em 1945)
*Fotos de arquivo
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terça-feira, 10 de outubro de 2017
TEMPLO DE SHIVA LINGAM
O templo de Shiva Lingam, dedicado à energia
criadora, foi construído pelos antigos numa praia belíssima ao sul do Golfo de
Bengala. É cavado num só bloco de pedra, sem emendas. Imagens em granito
circundam o templo, representando Shiva e sua esposa. A pedra foi cavada com
amor e carinho por mãos anônimas, reverenciando os deuses de antigamente.
A
Índia não perdeu a ligação com o passado. Passado e presente estão unidos num
todo, o eterno agora. A força do símbolo é uma constante. A imagem emerge da
pedra talhada, como se desta pedra emergissem seres ligados a antigas
civilizações. Os hindus têm necessidade de imagens para dar forma à sua
necessidade mística de devoção.
Imagino
o quanto de trabalho, talvez de gerações seguidas, para se construírem esses
templos. A pedra é dura e, para ser partida, o sistema egípcio foi usado:
pequenos orifícios onde colocavam madeira umedecida. Com a mudança de
temperatura a madeira inchava ou contraía, provocando o rompimento da pedra. As
formas humanas foram esculpidas com a força do instrumento, na base do martelo.
Não havendo máquinas, toda energia era a humana, fluindo dos braços, deixando a
forma surgir no espaço. Quantos anos foram necessários para esse contato direto
com a pedra, transmutando o interior das rochas, das cavernas, recortando
bichos e homens, elevando escadarias por onde sobem os devotos e transeuntes.
Turistas, querendo o flash do momento, procuram captar em suas câmeras, o que
levou centenas de anos para ser construído. Houve um impulso conduzindo as
diversas mãos para a edificação desses famosos templos, uma energia espiritual
circulando na pedra.(Trecho de diário de viagens, 1992)
*Fotos de arquivo e da internet
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terça-feira, 3 de outubro de 2017
CARTA DA ÍNDIA PARA IVANA
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acesas. Já aderi ao sári, pois não tem ninguém de ocidental aqui. Gostam da
gente, têm muito carinho, pois raramente os ocidentais se misturam com eles
feito nós. Estou até aprendendo palavras do Canadá, língua deles.
Estamos no
hotel ainda, mas tudo bem, as tensões estão indo embora, graças a Deus.
Maurício está entusiasmado com o trabalho, cada dia descobre alguma coisa nova
para ser acrescentada, e os olhos brilham.
Fico vendo com alegria o que é ser
artista da vida, estender a criatividade para todos os setores. Felizmente
vocês receberam um impulso, agora se largam sozinhos. Idéias é que não
faltam...
Penso em você e no quanto deve estar apertada com a
mudança e os negócios. Se houver algum problema mande me avisar. Estou longe
mas ganhando em compreensão de mim mesma e do mundo. A vida nos separou por
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Beijos de sua mãe,
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