segunda-feira, 10 de abril de 2017

FRAGMENTOS DE UM PASSADO FELIZ

Sempre gostei de escrever. Quando criança, anotava os fatos em diário, relatando os acontecimentos principais de minha vida. Na adolescência o não verbal assumiu a liderança, quando se manifestou em mim a necessidade de desenhar.
Meus primeiros desenhos datam de 1936, quando eu tinha 14 anos. Copiava das revistas artistas de cinema e esses desenhos foram guardados por minha mãe e até hoje fazem parte do meu acervo particular. Eu gostava de brincar com as palavras e desenhava também as caricaturas de todos os parentes.

Cloris, mulher do primo Geminiano Góes, era sempre muito presente e muito amiga da família. Escrevia versos e textos poéticos. Com ela devo ter aprendido a fazer versos e paródias de músicas carnavalescas. Tudo nos era oferecido como brincadeira.
Me lembro perfeitamente quando, aos 14 anos, Cloris preparou uma festa para a família reunida. Eu teria de subir num banco e desenhar a caricatura de cada um. Ela fazia os versos adequados. Todos ganharam versos e desenhos. Ao final desenhei a própria Cloris com uma tesoura na mão e um personagem de casaca tentando escapar da tesoura. E escrevi para ela o verso abaixo:
“Poetisa mui querida, escritora de mão cheia, eis sua arte preferida: cortar a casaca alheia...”
Com esta trova a própria Cloris foi premiada!

Havia naquela época uma interatividade muito grande entre as crianças, os adolescentes e os adultos. Eles sempre estavam presentes, nos incentivando nos jogos criativos.
Às vezes, havia um que nos dava gozeira, mas a forma de me defender era também gozando o “bullying”.
Criava sonetos humorísticos e paródias de músicas carnavalescas. Desenho, pintura e palavra escrita conjugavam-se harmoniosamente.

Abaixo estão algumas paródias:
Para tio Freitas, gozador e careca:
“Tio Freitas tem por mira caçoar do meu bigode;
Mas bigode a gente tira e a careca não se pode.”
Com este pequeno versinho, acabei com a gozeira do tio.
Encontrei nas trovinhas a forma de superar a raiva dos “bullyings”. Naquela época não havia este nome americano, mas a emoção negativa rolava dos dois lados, um querendo acabar com o outro e este se defendendo. Ao invés de chorar e me enraivecer, eu desenhava a caricatura da pessoa e fazia trovinhas à moda do nordeste. Com isto eu vencia o duelo e me acalmava.


Para toda a família, escrevi esta paródia da música carnavalesca intitulada “Nós, os carecas”:
“Nós, os narigudos
Não temos medo de ficar na mão.
Um ano é a careca, outro ano o bigode.
Mas fazer fiasco o meu nariz não pode.
E o cordão dos narigudos não é sopa não.
O meu nariz cresceu, por isso zombam de mim,
Mas a família inteira tem nariz grande assim.
Podem olhar, verificar, não é mentira!
Com nariz grande muito melhor se respira.”
Lembro que fizemos um cordão de carnaval na casa de D. Ester de Lima, avó de Vera Lúcia, minha prima, filha do tio Gerson. Saímos todos fantasiados e com nariz postiço. Na frente, conduzindo o cordão carnavalesco, ia a tia Letícia com seu nariz natural...

No momento estou na minha fase de colagens. Reúno papéis coloridos e vou cortando quadradinhos de diversos tamanhos. É a forma de substituir a tinta para não ter problemas de alergias. Fiz uma trova para esta minha fase recente:
“Enquanto Deus não me chama para entrar no céu,
Vou ficando por aqui, picando papel.”

O lúdico é importantíssimo para a transformação de energias negativas em positivas. O bom humor pode até prolongar a vida da gente.

*Fotos de arquivo

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