Sempre gostei de escrever. Quando criança, anotava
os fatos em diário, relatando os acontecimentos principais de minha vida. Na
adolescência o não verbal assumiu a liderança, quando se manifestou em mim a
necessidade de desenhar.
Meus primeiros desenhos datam de 1936, quando eu
tinha 14 anos. Copiava das revistas artistas de cinema e esses desenhos foram
guardados por minha mãe e até hoje fazem parte do meu acervo particular. Eu
gostava de brincar com as palavras e desenhava também as caricaturas de todos
os parentes.
Cloris, mulher do primo Geminiano Góes, era sempre
muito presente e muito amiga da família. Escrevia versos e textos poéticos. Com
ela devo ter aprendido a fazer versos e paródias de músicas carnavalescas. Tudo
nos era oferecido como brincadeira.
Me lembro perfeitamente quando, aos 14 anos, Cloris
preparou uma festa para a família reunida. Eu teria de subir num banco e
desenhar a caricatura de cada um. Ela fazia os versos adequados. Todos ganharam
versos e desenhos. Ao final desenhei a própria Cloris com uma tesoura na mão e
um personagem de casaca tentando escapar da tesoura. E escrevi para ela o verso
abaixo:
“Poetisa mui querida, escritora de mão cheia, eis
sua arte preferida: cortar a casaca alheia...”
Com esta trova a própria Cloris foi premiada!
Havia naquela época uma interatividade muito grande
entre as crianças, os adolescentes e os adultos. Eles sempre estavam presentes,
nos incentivando nos jogos criativos.
Às vezes, havia um que nos dava gozeira, mas a forma
de me defender era também gozando o “bullying”.
Criava sonetos humorísticos e paródias de músicas carnavalescas.
Desenho, pintura e palavra escrita conjugavam-se harmoniosamente.
Abaixo estão algumas paródias:
Para tio Freitas, gozador e careca:
“Tio Freitas tem por mira caçoar do meu bigode;
Mas bigode a gente tira e a careca não se pode.”
Com este pequeno versinho, acabei com a gozeira do
tio.
Encontrei nas trovinhas a forma de superar a raiva
dos “bullyings”. Naquela época não havia este nome americano, mas a emoção
negativa rolava dos dois lados, um querendo acabar com o outro e este se
defendendo. Ao invés de chorar e me enraivecer, eu desenhava a caricatura da
pessoa e fazia trovinhas à moda do nordeste. Com isto eu vencia o duelo e me
acalmava.
Para toda a família, escrevi esta paródia da música
carnavalesca intitulada “Nós, os carecas”:
“Nós, os narigudos
Não temos medo de ficar na mão.
Um ano é a careca, outro ano o bigode.
Mas fazer fiasco o meu nariz não pode.
E o cordão dos narigudos não é sopa não.
O meu nariz cresceu, por isso zombam de mim,
Mas a família inteira tem nariz grande assim.
Podem olhar, verificar, não é mentira!
Com nariz grande muito melhor se respira.”
Lembro que fizemos um cordão de carnaval na casa de
D. Ester de Lima, avó de Vera Lúcia, minha prima, filha do tio Gerson. Saímos
todos fantasiados e com nariz postiço. Na frente, conduzindo o cordão
carnavalesco, ia a tia Letícia com seu nariz natural...
No momento estou na minha fase de colagens. Reúno
papéis coloridos e vou cortando quadradinhos de diversos tamanhos. É a forma de
substituir a tinta para não ter problemas de alergias. Fiz uma trova para esta
minha fase recente:
“Enquanto Deus não me chama para entrar no céu,
Vou ficando por aqui, picando papel.”
O lúdico é importantíssimo para a transformação de
energias negativas em positivas. O bom humor pode até prolongar a vida da
gente.
*Fotos de arquivo
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ARTISTA”CUJO LINK ESTÁ NESTA PAGINA.
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