Encontrei nos meus arquivos esta carta dirigida à Marília em 1978.
Marília,
Recebi sua carta. Aliás chegaram muitas, a do Euler, da Ivana, de mamãe, das
tias Lourdes, Myrtes, Marília Paleta.
Estou sentada, na comunidade de Bangalore, num
quartinho sossegado. Muito passarinho cantando e ar fresco, a 25 graus. Em
Delhi passei pela experiência mais quente de toda a minha vida!
Vim do Nepal afim de entrar em contato com a
embaixada para a extensão do meu visa. Eliana não quis vir comigo por causa do
calor, mas na última hora, apareceu uma amiga dela, francesa, também com
urgência de ir à Delhi. Fomos juntas. O calor era tal, que não dava para
imaginar, só sentindo. Chegou a 48 graus!
Quase torramos. Aluguei um quarto com ar condicionado,
mas acho que o meu karma era sofrer calor.
Houve uma greve, cortaram energia, luz, ventilador,
ar condicionado, água fria, tudo de uma vez.
A cabeça da gente ameaçava fundir.
Fomos dormir na “boite” do hotel, num lugar que
havia ainda um pouco de ar condicionado . Na nossa frente víamos 2 dragões
enormes, fosforescentes, pintados no biombo em frente.
No dia seguinte vim para Bangalore. O avião estava
tão quente, que tivemos de descer em Agra para refrescar um pouco. A gasolina
evaporou com o calor. Só de noitinha seguimos viagem. Nessas situações, o
melhor é não esquentar a cabeça...
Um jornalista ao meu lado, estava desesperado dentro
do avião – “Estou acostumado com ar condicionado o dia todo...”
O melhor é embarcar na situação. Resolvi então
aplicar o pensamento positivo.
“Na minha terra, muita gente paga para entrar num
lugar quente, chamado “sauna”, para tirar as toxinas ou emagrecer...”
O único recurso era este, da auto sugestão. Consegui
melhorar o meu vizinho com a ideia da sauna.
Chegamos a Bangalore à noite. 25 graus! Quem entende
a Índia? Neste momento em Madras 43, 44 graus. E em Kashimir há neve...
Nepal é lindo, Marília, vale a pena ir lá. Gente
boa, agradável, risonha, cantando o dia todo. Até para pedir esmola cantam. Não
são insistentes .Vão de casa em casa, tocando um instrumento parecido com
viola, cantando canções lindas. Ganham mantimentos e dinheiro. É agradável
ouvi-los. As montanhas são plantadas em patamares como no Peru. Há neve no alto
dos Himalaias e de manhã a gente acorda para ver o deslumbramento: o sol nascendo por detrás das montanhas cobertas
de neve.
Há búfalos nadando nos rios e lagos, muita paz, de
clima ótimo.
Continuo trabalhando, é a única maneira de aceitar
as mudanças, os choques do ano passado. Minha pesquisa talvez seja aceita pelo
governo indiano. O livro da Pá vai ficar lindo, estamos caprichando . Ele irá
dar uma ideia boa de todas as nossas experiências, e estimular pessoas a
desejarem ver este outro lado do mundo.
Um abração. Cuide do nenen.
Abraços ao Paixão.
De sua mãe, sempre presente,
Helena.
*Fotos da internet
VISITE TAMBÉM MEU OUTRO BLOG “MINHA VIDA DE ARTISTA”,
CUJO LINK ESTÁ NESTA PÁGINA.
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