segunda-feira, 21 de maio de 2018

VIAGEM A MANGALORE I


Nos barcos, os peixes frescos, na maioria sardinhas, reluzem como prata à luz do sol poente. As embarcações vão chegando devagar e o movimento no porto aumenta à cada barco que atraca. Chegamos em Mangalore às 6 da manhã, depois de uma viagem interrompida por uma baldeação forçada.

Temos de chegar a um Ashram próximo à Mangalore.

Estamos sentadas num banco duro e sujo. Calor. Trem de segunda classe, gente chegando com cestos de tomate e sacos de batatas. Caminho de Mangalore para o Ashram . Gente, gente e mais gente. Homens falando outra língua e ninguém falando o inglês. A única forma de comunicação é o desenho. Estão curiosos,   o olhar e o sorriso é de amizade, ternura. Passa uma bandeja de melancia. Falam híndi, nós falamos português e inglês. Invento uma língua com o sotaque deles. 

Agora vejo o lado oposto do planeta como sendo o mesmo, com as mesmas características. Somos o mesmo, lá e cá, gente igual. Agora no trem, olhares curiosos investigam, carregam cestos, vão para as fazendas. Para gente pobre o tempo não existe, a paciência é a tônica. Não existe tempo nem premeditação. A vida é um cenário de impressões que passam como um filme. “No English”. Mas aqui a língua não faz falta. Silêncio, comunicação pelo ruído. 

Descobrimos um rapaz que falava inglês.
“What is your mother language?”, perguntou-nos. “Portuguese”.

Trem de segunda é paciência, integração com a realidade da Índia, no que ela é realmente sem turismo. Cartazes na estação anunciam “Filmes indianos”. Índia é isso: gente, curiosidade, aglomeração.

Com a ajuda do intérprete, que sabia falar inglês, pudemos organizar um coro improvisado, cada um cantando uma canção popular da sua língua. Na nossa vez,  cantamos “Ciranda, cirandinha”. A comunicação entre os povos não se faz somente através do intelecto, mas também incentivando a energia de comunicação das pessoas através do canto. Assim, uma viagem que deveria ser penosa, tornou-se muito divertida.(Trecho de diário de viagem à Índia , 1979)

*Fotos de arquivo

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