Artista plástica, ex-aluna de Guignard. Maria Helena Andrés tem um currículo extenso como artista, escritora e educadora, com mais de 60 anos de produção e 7 livros publicados. Neste blog, colocará seus relatos de viagens, suas reflexões e vivências cotidianas.
segunda-feira, 25 de março de 2019
DESPEDIDA DE ARUNACHALA
Na viagem de volta, a montanha nos acompanhou por
muito tempo.
Ela está bem em frente à estrada e, para vê-la tivemos de olhar
pelo vidro traseiro do carro.
Enquanto o motorista seguia à caminho de Chenai,
procuramos sentir o mistério da montanha.
Cantamos “Arunachala, Shiva, shiva”
com música de embalar crianças. A montanha às vezes se encolhia por detrás das árvores, às vezes aparecia de novo,
majestosa, imponente como uma rainha.
De repente me vi cantando “Alexandre, Shiva, Shiva”.
Nesta hora, lá, bem distante, no Brasil, Alexandre, meu neto, deve estar
chegando ao mundo. Mais um personagem para a minha família e uma benção
especial de Arunachala para o recém nascido.
Quando nos despedimos de Arunachala, um sentimento
de paz e amor desceu sobre nós. Realmente a Índia tem seus mistérios seculares
e a energia ainda está muito viva.
É só saber percebê-la no agora. O agora é
este momento de “awareness” (consciência) que estamos vivendo. “Awareness” não
pode ser encomendado. É uma percepção clara, sem interferência do pensamento ou
do passado. “Awareness” é o agora, e no agora, podemos sentir o eterno. (Trecho
do Diário de viagens, 1990)
*Fotos da internet
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segunda-feira, 18 de março de 2019
UMA COMUNIDADE NO SUL DA ÍNDIA
Há
um caminho até o alto, onde Ramana Maharshi se recolheu ao silêncio por 8 anos.
Ramana
Maharshi via a cidade em baixo, por entre as montanhas. Ramana foi o mestre do
silêncio. Ação silenciosa, sem trombetas. O silencio tem alma, é a alma das
coisas e a gente aprende mais no silêncio do que através de microfones. Exemplo
silencioso de humildade, harmonia e paz.
Há
um americano na comunidade, foi ele quem me introduziu a um Swami muito santo,
que foi discípulo do próprio Ramana. Lembrei-me do outro americano no Nepal,
que me conduziu ao Lama Tibetano. O silêncio do Boudanah, no Nepal lembra o
silêncio de Arunachala.
Jnana
yoga e o budismo se parecem – observar a mente. Quem sou eu? São sistemas
elaborados sobre o universo: viver a unidade, respirar a unidade, sentir a
unidade. Todos somos um – homens, animais, plantas, céus, terra. A energia é a
mesma, a luz é a mesma.
Convidaram-me
a entrar em contato com um Swami de 82 anos discípulo de Ramana. Das 4:30 às
5:30, ele fazia meditação com os visitantes. Não falava nada, sentava-se em
cima de uma cama de madeira. O quarto era simples e as roupas lavadas balançavam
sobre o ventilador, meia dúzia de panos voando. Ele estava envolto em apenas
dois panos. Alto, calvo, fisionomia serena. Fui recebendo a sua mensagem sem
uma palavra.
Sem
silêncio não se atinge nada. Meditação é silêncio, doação é silêncio, amor é
silêncio. Tudo vem desse silêncio que conduz ao Eterno. La fora pavões andavam
sobre os telhados, voavam no pátio, abrindo os leques coloridos. Naquele lugar
o silêncio era tudo. Impressionou-me a humildade e o silêncio. Aprendi sem
ouvir, sem ler, sem cansar a vista e sem perder a energia.
*Fotos
da internet
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segunda-feira, 11 de março de 2019
SRI AUROBINDO E A MÃE
Sri
Aurobindo foi revolucionário, lutou como Gandhi pela libertação da Índia dos
colonizadores ingleses e se refugiou em Pondichery, pequeno território de posse
dos franceses. Viveu aqui, recolhido dentro de um casarão, hoje reservado às
meditações e à visitação pública, escrevendo livros inspirados em planos
superiores.
Seu
pensamento atravessou fronteiras, alcançou
um futuro ainda não vivenciado. Suas ideias sobre educação, ecologia,
unidade planetária, supramental, são estudadas como uma das formas de traduzir
a linguagem do cosmos, que diariamente desce até nós, sem que dela tenhamos
consciência.
Por
coincidência, foi também uma francesa a sua companheira espiritual.
Mira, ou “A
Mãe”, como afetuosamente foi chamada pelos devotos, morreu aos 95 anos em
Pondichery e seu “samadi” coberto de flores e vasos superpostos fechando
canteiros, é visitado diariamente por milhares de devotos. A Mãe escrevia
livros e dava lições de amor universal às pessoas que a ela se ligavam.
“ The
happiness you give, makes you more happy than the happiness you receive” (A
felicidade que você dá para os outros te faz mais feliz do que a felicidade que
você recebe dos outros)
Seus
pensamentos estão espalhados pelas paredes, em cartazes sugestivos e pequenos
livros decorados com desenhos e vinhetas, distribuem suas ideias pelo mundo.
Mas o livro
da vida também nos ensina. Olhando para a mar hoje de manhã, busquei o nascer
do sol, contemplando o horizonte. Havia nuvens e a claridade se fazia sem a
presença do sol. As nuvens se tornavam cada vez mais escuras, porque por detrás
delas, o sol impunha sua presença. Começou colocando uma aura luminosa por
detrás das sombras. Depois surgiu radiante, muito mais brilhante do que das
outras vezes.
A nossa
sombra é necessária, para que a luz se faça mais brilhante.(Trecho do Diário de
viagem, 1990)
*Fotos da
internet
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quarta-feira, 6 de março de 2019
ANDANDO PELAS ESTRADAS DA ÍNDIA
Andando novamente pelas estradas da Índia. A pessoa
encarregada dos transportes aqui, arranjou-nos um carro para seguirmos até Chenai,
via Tiruvanamalai. Saímos às 4 da tarde, porque o sol nesta hora é menos
intenso. Mais um olhar para o Golfo de Bengala, as ondas serenas, os coqueiros
balançando ao vento.
A despedida é mais um agradecimento pela
oportunidade de vivenciar esta experiência.
Enquanto o carro roda, vamos
anotando as cenas, gente em quantidade nas ruas, homens de panos brancos
enrolados nas pernas, mulheres de saris e flores nos cabelos.
São 4 horas e as aulas devem estar acabando. Nas
ruas, rickshaws pedalam carregando crianças, de volta à casa.
Novamente os campos de arroz, muito verdes, com
pequenos vilarejos onde o mercado é sempre à beira da estrada. Paramos para
comprar frutas. Não sabemos que tipo de comida vamos encontrar pela frente...
O espetáculo do poente nos faz parar o carro
novamente para tirar fotos. No alto do morro, o palácio do Marajá Krishnague,
famoso num passado de 200 anos, hoje transformado em museu.
Não sei como estes marajás faziam para escalar a
montanha. Só poderia ser no lombo de elefantes, com aquelas padiolas enfeitadas
de espelhinhos, arabescos e pedrarias...
Neste momento fico pensando porque o Collor de Melo
escolheu a palavra “Marajá” como exemplo de riqueza.
Aqui, nem todos os marajás eram ricos, mas todos
tinham apego ao poder. Trabalhavam para aumentar as riquezas nas artes, hoje um
espetáculo fascinante para o turista. Existem palácios maravilhosos,
deslumbrantes na arquitetura e decoração.
(Trecho de diário de viagem, 1990)
*Fotos da internet
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