Bangalore, 17 de março de 1978
Querida mãe,
Sua carta com notícias ótimas, nos deu muita
alegria. A gente de longe fica louca por notícias.
Agora, Bangalore de novo, numa comunidade
protestante. Estamos amigas, Eliana e eu, das irmãs daqui. De manhã tocam o sino
e a gente se reúne para cantar e rezar a Bíblia. Cada dia uma das irmãs ocupa o
lugar de ministro e explica para as outras textos do Evangelho. Estão ligadas à
linha de São Tomé, que foi o discípulo de Cristo que emigrou para a Índia. São
Tomé foi aquele discípulo que precisou tocar as chagas de Cristo para acreditar
na ressurreição.
A Índia é o paraíso de pessoas de idade. São muito
valorizados, tratados como sábios, ninguém pensa em caduquice. Acho que caduquice
é a própria pressão de fora, exigindo que a gente envelheça. Estou observando
muito os costumes do país, e o Maurício, de tanto pesquisar, já está compondo
um livro sobre o assunto. O livro inclui um estudo comparativo dos dois países,
interessantíssimo. A parte de educação e arte ficou por minha conta e tenho me
virado e me distraído com isto. Chego nas escolas, me levam para conhecer tudo.
Ontem estivemos em White Fields, perto daqui, onde mora Sai baba, um guru muito
famoso. Ele é um homem com uma aura maravilhosa e um poder incrível.
Materializa as coisas. Num casamento, fez aparecer jóias nas mãos da noiva, e,
se o devoto olha com atenção para o seu retrato, começa a escorrer mel da
figura. Por causa dos milagres o povo corre para lá. Uma de suas maiores
devotas é Indra Devi, uma senhora de 80 anos, nacionalidade russa, que morou 16
anos no México, numa casa de 35 quartos, um palácio. Ela está morando aqui e
nos convidou a conhecer o seu grupo de Yoga. Estávamos assistindo uma palestra
em Bangalore, onde ela era a pessoa principal. Eu estava de sári, mas com a
minha cara de brasileira, logo veio a pergunta: “De onde você veio?” Abraçou-me
como se fossemos velhas amigas.
Ela tem um ar de D. Malisa, aquela alegria e
espontaneidade. Costuma reunir crianças pobres da vila, dá roupas, cadernos,
comida para eles. Está agora ensinando yoga, música. Se houver oportunidade,
talvez a gente ajude um pouco com a pintura. Voltamos de lá boquiabertas. Ela
tem uma força incrível. Tem 80 anos com a alegria e espontaneidade de uma
adolescente. Cheguei à conclusão que o importante é a gente alcançar esta
alegria, esta vontade de viver, de ajudar, de fazer coisas e trazer também aos
outros à nossa volta, estes pensamentos e ações positivos.
Quando entra o negativismo é melhor afastar e
aprender tudo de novo. Estou aprendendo muito aqui. A bondade do povo, a
maneira hospitaleira com que nos recebem, o nível cultural e artístico elevadíssimo
e não competitivo. A arte serve para educar o povo, como nas antigas sociedades.
Museus, teatros, dança, música, pintura, tudo pertence a um todo onde os livros
sagrados são a fonte e a inspiração.
Nesta tarde em White Fields as crianças cantavam e
nós acompanhávamos batendo o compasso.
Indra Devi estava recebendo novos alunos: 8 cegos
fazendo yoga, respirando, relaxando, concentrando. Ela estava eufórica de poder
ajudar os pobres e os cegos. Hoje iremos voltar a White Fields ver Sai Baba e
assistir as aulas de Indra Devi.
Mamãe, cheguei à conclusão de que você vai adorar a
Índia. Prepare-se, você está muito forte por dentro, tem muita vida, a cabeça é
jovem. Não pode deixar de conhecer este país.
Um abraço saudoso, da filha,
Helena
*Fotos de arquivo e da internet
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