A carta abaixo dirigida ao Frei Rosário em 1996 é um
documento do que ele aspirava realizar na Serra da Piedade: uma biblioteca
ecumênica, reunindo os livros mais importantes das várias religiões do mundo.
Resolvi publicá-la porque esses livros se destinam a todas as pessoas
interessadas no assunto. Frei Rosário era uma pessoa muito à frente do seu
tempo.
Belo Horizonte, 8 de setembro de 1996.
Frei Rosário,
Os livros que o senhor nos encomendou acabaram de
chegar da Índia. Viajaram seis meses num navio cargueiro, reconquistando o
caminho das Índias, como fizeram no passado os portugueses.
É de grande importância relatar todo o processo
desta pesquisa , desde o incentivo que o senhor nos deu quando nos incumbiu de
trazer para o Ocidente os livros sagrados da Índia. Neste momento as suas
palavras nos chegam aos ouvidos:
“Gostaria de fazer da Serra da Piedade um centro de
estudos para o Terceiro Milênio. Este lugar foi destinado por Deus para o
encontro do Oriente com o Ocidente, um lugar de paz, longe do barulho das
cidades, no alto das montanhas que cercam Belo Horizonte...” Uma biblioteca ecumênica facilitaria o
encontro com os vários caminhos espirituais.
Foi com muito respeito que nos dispusemos a cumprir
nossa missão.
Seria uma contribuição para a humanidade trazer a sabedoria do Oriente para o alto das
montanhas de Minas Gerais, um trabalho de pesquisa ao qual nos dedicamos com
muito amor e coragem.
Desde nossa chegada à Índia, nosso objetivo
principal era encontrar os livros. Neste momento procuro rememorar os lances de
nossas pesquisas e as dificuldades que encontramos no caminho.
De início indicaram-nos a cidade de Benares como a
principal guardiã desses livros
sagrados.
Procuramos informações com professores da
Universidade de Sânscrito, editores e filósofos, que se alegraram com a
possibilidade de um padre católico se aproximar deles em busca de paz e
harmonia.
Na Índia as
pessoas que se aprofundam nos estudos dos Vedas e Upanishads, são seres
especiais próximos de Deus e da sabedoria universal.
Os padres católicos, mergulhados na contemplação,
também encontram o mesmo estado de união com Deus.
Conduzidas por esse incentivo, seguimos caminho
pelas estradas poeirentas da Índia, percorrendo os becos de Benares,
mergulhando no meio da multidão que se acumula nas ruas, na hora do “rush”.
Tínhamos o endereço de uma editora situada no meio da confusão de Benares.
Passamos por bicicletas, charretes, tentando abrir caminho entre as pessoas,
seguindo em frente conduzidas pelo guia.
Depois de meia hora de caminhada chegamos a uma casa alta, escura, livros
empilhados nas estantes, lamparinas acesas. Perguntamos pelos livros.
Encontramos os primeiros volumes de Bhagavad Gita, Upanishads, Vedas.
Como a editora tinha sede em Delhi deixamos para
comprar a coleção na capital da Índia, talvez ali pudéssemos ter um pouco mais
de conforto.
Em Delhi, com as indicações recebidas em Benares
através dos editores e de um professor da Universidade de Sânscrito,
reiniciamos nossa pesquisa. A editora de livros de filosofia da Índia ficava
situada há uma hora de distância do centro da cidade, onde estávamos
hospedadas.
Eliana embrenhou-se para dentro das salas onde os
livros se empilhavam nas estantes. Fiquei na primeira sala, onde havia mais
ventilação e menos poeira. Um grupo de crianças pobres nos esperava do lado de
fora para receber algumas rúpias.
Entramos na livraria às 10 horas da manhã e só
conseguimos sair às 2 da tarde, quando a fome apertou.
Eliana, acompanhada de Rajesh, um filósofo nosso
amigo, chegou triunfante com a pilha de livros.
“Conseguimos todos os livros para a biblioteca da
Serra da Piedade! Vai ser uma coisa maravilhosa essa biblioteca!”
A emoção de ter cumprido a tarefa para a qual fomos
chamadas nos cobria de paz. Voltamos para o hotel em silêncio, deixando os
livros com tudo pago para seguir viagem para o Brasil. Mais uma vez, a síntese
Oriente – Ocidente nos chamava, ela vibrava dentro de nós.
“O Frei Rosário teve uma inspiração extraordinária!
A Serra da Piedade será a guardiã de uma sabedoria que não se perde no decorrer
de milênios.”
Agora que os livros chegaram sentimos alegria pela
tarefa que pudemos cumprir na Índia, trazendo para Minas Gerais a contribuição
de seus irmãos do Oriente.
Impossibilitados de comparecer pessoalmente por
ocasião da entrega dos livros, deixamos Maurício como nosso intérprete e
intermediário.
Ao Frei Rosário, de cuja intuição recebemos esta
preciosa incumbência,deixamos nossos cumprimentos,
Maria Helena Andrés
Eliana Andrés
Observação: Recentemente fiquei sabendo que os livros comprados na Índia estão na biblioteca da PUC.
Observação: Recentemente fiquei sabendo que os livros comprados na Índia estão na biblioteca da PUC.
*Fotos de arquivo
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Namastê! Prezada Artista e yogini, tive o prazer de conhecer sua neta ao buscar informações sobre vacinas para Índia. Estou com viagem programada, a primeira de muitas que, pelas bênçãos de meu Mestre, ainda acontecerão. Na verdade já recebi uma grande bênção hoje ao conhecer sua neta e tantas sincronicidades. Também sou artista (apesar de adormecida) e yogini (em formação). Seu trabalho é um tesouro para os buscadores de luz e que levam a arte como uma grande ferramenta de crescimento e autoconhecimento. Continue nos enchendo da verdadeira beleza.
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