Artista plástica, ex-aluna de Guignard. Maria Helena Andrés tem um currículo extenso como artista, escritora e educadora, com mais de 60 anos de produção e 7 livros publicados. Neste blog, colocará seus relatos de viagens, suas reflexões e vivências cotidianas.
domingo, 28 de junho de 2020
TIO ZIRO
Tio Ziro ou Ephigenio de Salles, governador do
Amazonas, era uma figura muito importante no Brasil. Hoje Manaus tem uma grande
avenida com o seu nome.
Quando chegava a Minas Gerais, sua terra natal, era
recebido com aparato digno de um príncipe da corte. Acompanhava-o batedores,
música e um séquito de cavaleiros uniformizados.
Para as crianças era uma festa ver aquele homem de
cabelos brancos ser tão homenageado!
E, para cúmulo do privilégio, ele era meu tio!
Descia na casa de minha avó cercado de políticos e
ficava horas conversando com eles na sala.
Enquanto isso as crianças esperavam, lá dentro da
casa, pelos presentes que ele trazia de Manaus. Tio Ziro gostava de crianças,
tinha um carinho muito grande pelas sobrinhas, filhas do Euler, meu pai, também
político.
Eu me sentia muito importante por ser sua sobrinha Lena, como todos me chamavam.
Tio Ziro anunciava, antecipadamente, o presente que
me daria: uma boneca, daquelas que choram, abrem e fecham os olhos, uma
lindeza!
Quando ele chegou na casa de minha avó Ritinha, sua
irmã, eu estava ali esperando o tio querido que me daria de presente uma
boneca.
Esperei muito tempo aguardando impaciente o momento
de ter a boneca em minhas mãos, mas os políticos conversavam sem trégua.
Eu pensava comigo mesma, porque falam tanto?
A boneca estava dentro de uma caixa, em cima de um
armário cheio de prateleiras. Eu olhava para cima, louca para que aquela
conversa terminasse lá na sala, e nada!
Resolvi então me antecipar e subir no armário.
Comecei a subir, já estava na segunda prateleira quando escutei um barulho
forte, o armário caiu em cima de mim, com uma poeirada sem fim, barulho de
tábuas se chocando.
O quarto era muito estreito, o armário bateu na
parede em frente, e eu fiquei encolhida sob as tábuas.
Fui retirada de lá por um grupo de pessoas desconhecidas.
Meu tio ficou na sala, acudido por outros políticos.
Saí debaixo do armário coberta de poeira, mas
segurando a caixa da minha querida boneca.
Tia Lilita me levou para o fundo do quintal para me
passar pito e tio Ziro, muito bondosamente me perdoou.
Quando ele me abraçou, eu o vi como um santo.
A imagem de tio Ziro, como
amigo das crianças, foi importante para mim, quanto a sua chegada a Belo
Horizonte cercado de cavaleiros uniformizados.
Tio Ziro era uma pessoa muito linda!
*Fotos da internet
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domingo, 21 de junho de 2020
O SARAU DE ALEXANDRE
Alexandre, meu neto, continua com sua música
procurando aliviar o clima de apreensão que estamos vivendo.
Sua música é a expressão de uma alma jovem que
reverencia os mais velhos. Este meu neto caçula sempre me acompanha com sua
música. Esteve presente, juntamente com seu pai Artur em todas as minhas
exposições de arte. Juntos participaram de um sarau no Retiro das Pedras,
organizado por Eliana e suas amigas. Cada um trouxe um prato. Escutamos
emocionados o concerto cheio de energia e carinho. Tocaram minhas músicas
preferidas, em frente ao vitral do Veleiro, com o sol desaparecendo nas
montanhas.
Agora, Alexandre combinou comigo:
“Vó, eu vou te ver no retiro... Vou ficar de longe.
Combinamos que às 5 horas ele estaria aqui, tocando
para mim no gramado do Maurício, lugar em que, da minha janela, eu poderia
vê-lo e escutá-lo à distância.
O sol brilhava quando ele chegou. Trouxe a estante
de partitura e começou o recital com uma música de Bach tocada na flauta.
Escutei páginas eruditas, seguidas por músicas de
sua autoria. Naquele momento ele trocou a flauta pelo violão e eu pude ouvir a
música dedicada a mim denominada “Voz de todos nós”.
A voz de todos nós é a voz dos jovens de sue grupo.
Naquele momento os pássaros cantavam juntos com toda a poesia de um instante de
luz.
Os músicos se comunicam melhor através dos sons e a
alma do poeta nos retira da vibração densa da terra, buscando espaços
superiores com mais luminosidade.
Agradeço a homenagem que me foi prestada naquela
tarde, onde os sons do violão e o canto de Alexandre se integravam aos sons da
natureza, ao canto dos pássaros e ao colorido de um por do sol nas montanhas de
Minas Gerais.
*Fotos de arquivo
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terça-feira, 9 de junho de 2020
SARAUS, ONTEM E HOJE
Os nossos antepassados pertenceram a um tempo em que
não havia TV, Internet, redes sociais, celulares.As pessoas eram amigas, faziam
reuniões, saraus.
Lembro-me das reuniões em casa de D. Ester de Lima.
Ela promovia em sua casa, na Rua da Bahia, festas inesquecíveis com os melhores
músicos da cidade de Belo Horizonte. O importante era estar presente,
participar.Os Franzen de Lima se uniram aos Salles Coelho com o casamento de
tio Gerson com tia Zezé, filha de D. Ester. Tia Zezé tocou piano a vida
inteira, a música era sua vida.
Naquelas reuniões escutei poemas de Carmem de Melo e
o canto de Maria Lúcia Godoy. Aqueles foram os saraus de antigamente em Belo
Horizonte, dos quais participei como admiradora.
No Rio de Janeiro, naquela ocasião capital do
Brasil, grupos de intelectuais se reuniam na casa de tio Joaquim, em Botafogo.
As reuniões aconteciam naquela casa da Rua Mariana, com a presença de Alceu
Amoroso Lima, vizinho e amigo de tio Joaquim, de Augusto Frederico Schmidt,
poeta cristão muito conhecido.
Tio Joaquim era grande jornalista, interagia com
pessoas inteligentes e criativas, trocavam ideias, estimulavam novas criações.
Seus dois filhos, Maria Letícia e Aloysio, sempre prestigiaram as artes no Rio.
Eu mesma devo agradecer a eles o incentivo que me
foi dado e ao Dr.Alceu Amoroso Lima, que prefaciou meu primeiro livro “Vivência
e Arte”.
Mas, voltemos aos saraus. Eles nos deram o exemplo,
e hoje, a partir de um retorno às origens, novas reuniões estão surgindo para
estimular a convivência entre artistas e público.
Em Belo Horizonte, pessoas têm realizado em suas
casas encontros com amigos e com artistas, ocasião em que a música e o canto
são resgatados para integrar grupos e proporcionar momentos de alegria e
descontração. São exemplos de organizadoras de saraus as psicólogas Graça Cunha
e Do Carmo e a socióloga Diva Moreira.
Atualmente, durante a quarentena, estas reuniões
estão sendo organizadas por grupos de artistas que interagem sobre um tema
comum, a exemplo da reunião virtual de Lô Borges e outros músicos em torno “da
janela do meu quarto de dormir”.
*Fotos da internet
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segunda-feira, 1 de junho de 2020
DIÁRIO DE MINHA MÃE NAIR, PARIS
“Dia 13 de julho viemos para Paris, onde ficaremos
15 dias.
Paris, que tanto sonhava conhecer. É uma cidade muito antiga, todos os
prédios velhos. Eles conservam , como era no tempo dos reis e rainhas.
Estou
gostando muito, apesar da chuva que está caindo. No dia do meu aniversário, 8
décadas como disse Paulinho, meu neto. É uma longa vida que nem todos tem o
privilégio de chegar. Recebi logo telefonemas de todos os filhos, o que muito
me comoveu. No mesmo dia, uma carta da Maria Regina, com gosto de minha
família. Da Suíça para Paris levamos 1 hora, uma viagem muito boa. Hospedamos
no hotel de France, bonzinho, 3 estrelas, mesmo no centro da cidade.
Hoje é 14 de julho, estão em grande festa, festa
nacional pela tomada da Bastilha. Estamos sentadas numa praça onde tem uma
festa popular, coreto com música e dança para o povo. Muito interessante e
todos muito alegres. Como é emocionante conhecer tantas coisas que já havia
lido em romances.
Depoimento de Helena: “pessoas de todas as cores,
gente de todas as idades, música, dança, a verdadeira Paris do povo parisiense
está aqui nesta praça com um pequeno coreto no meio, mesinhas, café, creperie,
janelas com flores, luzes nas ruas. Dá idéia de Ouro Preto, tudo antigo. Pela
primeira vez um programa legal, 14 de julho em Paris. Marselhesa, os nobres
caindo, o povo, a massa subindo, Revolução Francesa e o mundo depois de tudo
continuando na mesma. Pobres e ricos, nobres e plebeus. Ontem em Geneve vimos o
Papa na Televisão pregando a revolução sem mortes, sem guilhotinas, mas
conscientizando a luta e a compreensão das diferenças no sentido das mudanças.
O mundo ocidental quer as reformas da massa, o mundo oriental quer a reforma de
cada um dentro de si – Krisnamurti prega outra revolução, a quebra do ego, do
eu egoístico para a compreensão também da igualdade de todos – por dentro, não
por fora.
São dois pólos opostos da mesma moeda – mudar,
reformar, desde o tempo da revolução francesa, estamos hoje lembrando mudanças.
Nair: Hoje, dia 16 sai com Helena para um encontro
com o embaixador do Brasil, muito simpático.
Agora, depois do almoço fiquei um pouco no hotel descansando. Helena foi
a uma editora para mostrar o livro da Índia.
Já fizemos diversos programas, à
noite o Lidô. Fomos a diversos cinemas, todos muito pornográficos, até enjoa.
Hoje, dia 23, viemos ao museu de arte moderna, muito interessante, muito bonito
mesmo. Aqui almoçamos e, enquanto descanso, Helena corre o museu.
Hoje, dia 24, fomos a Chartres, uma cidade antiga
onde tem uma bela catedral, toda com vitrais belíssimos. A igreja é antiga, mas
é dessas catedrais que dá vontade de rezar, recolher. A cidade é linda, toda em
estilo muito antiga, fomos de trem primeira classe e voltamos de segunda
classe. Ótimo trem, duas horas de
viagem. Aqui na França escurece mais tarde, às 9 da noite ainda está claro.”
(Nair Barroca, Diário de viagem, 1980)
*Fotos de arquivo e da internet
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