Encontrei nos meus
arquivos, o texto abaixo, escrito em 1969, quando o homem chegou à lua.
Quando no silêncio do
atelier, tomamos uma tela branca e começamos a elaborar um novo quadro, não
temos conhecimento muito claro do que se processa por detrás das pinceladas.
Criamos porque sentimos necessidade de dizer , de proclamar alguma coisa que
nos emociona, seja uma paisagem, uma figura, uma ideia, uma intuição. Lírica ou
agressiva, realista ou abstrata, a forma de arte é uma exteriorização daquela
ideia que se esboça vagamente. Brotando do inconsciente sem imposições
externas, ela transmite a nossa emoção diante do mundo e pressentimentos claros
do que está por acontecer no futuro. Toda a minha fase de naves
interplanetárias antecedeu a chegada do homem à lua.
Naquela época em que o
homem pisava pela primeira vez o solo de outro planeta e regressava à terra
triunfante, vivemos e sentimos o impacto das histórias fantásticas que se
transformam em realidade. Aquilo que pressentíamos apenas, ou sonhávamos, isto
é, conhecer e explorar o mistério das estrelas, aí estava ante nossos olhos
assombrados. Eles desceram realmente na lua, foram vistos pela TV, escutados
pelas transmissões de rádio!
Os artistas da
atualidade, criados neste ambiente de procura científica do desconhecido,
inspiram-se e às vezes até adiantam-se às conquistas espaciais. Através da
imaginação descortinamos a lua e outros planetas. Não são poucos os pintores e
desenhistas, escultores e gravadores que se preocupam com o que anda por lá,
nas regiões inexploradas deste céu imenso. Acompanhamos em imaginação as
experiências que se fazem no mundo e, se não pudemos pisar realmente o solo
lunar, navegamos pelo espaço cósmico procurando um lugar ao sol para o nosso
pouso.
Artistas abstratos como
Danilo de Preti e Mabe nos dão
testemunho desta preocupação com o espaço interplanetário. Pintaram paisagens
imaginárias, não as paisagens a que nos acostumamos a ver. Minha fase interplanetária
foi um reflexo das preocupações espaciais. São naves que transportam seres
humanos, levam cidades, oficinas, máquinas, fábricas, numa imigração futura
para mundos nunca dantes percorridos.
*Fotos de arquivo e da
internet
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