Estação cheia, vozes falando em dialetos diferentes
vão formando um só ruído. Gente é que não falta na Índia! Assentados no chão
aos montes, os indianos esperam.
Um grupo de homens, cassetetes na mão, parecem
nossos guardas. Não sei porque usam este bastão, talvez seja para carregar a
trouxa na ponta. São jovens e devem pertencer a alguma linha de yoga, pois todos têm carimbado na testa o
símbolo do “OM”. Agora eles se acercam curiosos, sorrindo. Observam a gente de
perto, os sapatos prateados de Marília Paleta e o meu bolso de cintura. O
indiano é essencialmente curioso com as coisas que vêm de lá, do outro lado do
mundo.
Agora estou anotando a viagem depois de um repouso
no Sivananda Ashram, à beira do Ganges. O ashram fica situado no alto do morro,
entre árvores e cantos de passarinhos. Podemos repousar um pouco neste primeiro
dia, antes que comecem as programações de meditação, cantos, Saisang, etc.
Chegamos cansados, depois de 2 dias em Haridwar,
conduzidos até o ashram de “Baba” pelo professor Ramesh de Benares. Baba é um
indiano que não fala nem uma palavra e só conversa escrevendo numa pequena
lousa. Mora em Santa Cruz, Califórnia, e agora está no seu ashram da Índia, com
um grupo de seguidores. Um deles é o professor que encontramos por acaso no
trem. Simpático, amável, foi o grande companheiro de viagem, desde Delhi a Haridwar. Conversou sobre tudo, é muito culto, já morou
nos EUA e agora vem buscar orientação a este swami silencioso à beira do
Ganges. Organizou a nossa chegada,
ofereceu-nos chá e dividiu seu almoço comigo.
Assim são os encontros nas viagens. Pessoas que nos
ajudam, fazem tudo por nós e depois desaparecem no tempo como a fumaça do trem.
A chegada no Sivananda Ashram foi cansativa. Subimos
o morro onde os prédios foram construídos, carregando nossas malas. Nosso
apartamento fica distante da entrada e para irmos ao refeitório temos de descer
o morro. O ashram é enorme, com pátios centrais onde as vacas e os macacos se
misturam com os devotos sem nenhum problema. No salão central, o retrato de
Sivananda com o característico colar de flores do indiano.
As flores na Índia são plantadas especialmente para
as grandes solenidades. Há dois dias atrás, em Delhi, estávamos sentadas no
chão, enfiando flores para serem colocadas no Shiva Ligam do jardim da Escola
Aurobindo, flores amarelas enfiadas umas nas outras.
Hoje, sentada à beira do Ganges, uma florzinha
amarela veio seguindo o curso das águas e ficou parada nos dedos do meu pé
esquerdo, como uma dádiva do Ganges. (Trecho do Diário de Viagem, 1990)
*Fotos da internet
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ARTISTA”, CUJO LINK ESTÁ NESTA PÁGINA.
Cara Maria Helena, fiquei não só feliz, mas aproveitei todos os fatos pelos quais você passou e tantas vezes eu li em livros dos mestres da Yoga, tais como Vivekananda, Yogananha, Ramana Maharishi e senti como se eu tivesse feito a caminhada que você teve a coragem de fazer e que eu me acovardei, pela longa distância a percorrer. Aliás, todos esses locais, já os conhecia pelas biografias dos mestres que dirigiam cada um deles.Cumprimento-a pela coragem e agradeço por compartilhar suas vivências comigo, que nunca pus o pé fora do fora do Brasil. Abraços,
ResponderExcluirCélia Laborne.