Artista plástica, ex-aluna de Guignard. Maria Helena Andrés tem um currículo extenso como artista, escritora e educadora, com mais de 60 anos de produção e 7 livros publicados. Neste blog, colocará seus relatos de viagens, suas reflexões e vivências cotidianas.
quinta-feira, 29 de dezembro de 2011
ROMA, PRAÇAS E FONTES
No momento em que a Casa Fiat de Cultura traz para Belo Horizonte uma grande exposição sobre o Império Romano, coloco neste blog minhas impressões sobre Roma registradas em diário de viagem.
Tráfego intenso, ruas estreitas, casas pintadas de vermelho, vozerio, brigas, uma batida de carro, gente em torno discutindo: “Quem tem razão?”
Assim, Roma nos apareceu pela primeira vez.
Depois, aquele motorista que nos transportou ao aeroporto às cinco horas da manhã. Quase perdemos o avião. Lembro-me como se fosse hoje do aperto que passamos. O carro velhíssimo, não funcionava, o farol quebrara com os murros que o “chaufeur” lhe dera, o tempo passava e chegamos ao aeroporto com 10 minutos de atraso. Mas, italiano é como brasileiro. Sempre dá um jeitinho para tudo. A escada do avião já tinha sido levantada. “Ponha a escada de novo que elas chegaram!”
A raça latina é tão parecida em qualquer parte da terra!... Gente barulhenta, extrovertida, mas sempre solidária.
Roma de hoje, nesta manhã de verão: o mesmo colorido tropical nas vitrines, a mesma confusão nas ruas. As cenas sobrepõem-se como cinema: Roma “quadrata”, com suas portas construídas pelos antigos moradores da cidade, o arco de Constantino lembrando a vitória do imperador e sua chegada triunfante com as relíquias de Cristo.
A cidade antiga, ruínas de um grande império, a lembrança dos Césares nas pilastras, no Fórum, no Coliseu. Depois da Roma pagã sobreveio a Roma cristã, levantando como bandeira o heroísmo dos mártires: a vida dos primeiros cristãos, seu sacrifício, sua atitude idealista e espiritual, seu protesto.
Bernini é o artista das praças de Roma, das fontes que jorram água e caem sobre pedras e esculturas de guerreiros e cavalos. Bernini é a agressividade e a violência, fruto do espírito barroco da época. Seguidor de Miguel Ângelo, dele captou a força, mas não atingiu sua poesia. Suas figuras gigantescas, retorcem-se em movimentos de músculos deformados, e a água que jorra vai transmitindo ao presente um pouco da história do passado.
Nosso programa é especialmente correr museus, mas a cidade em si é um grande e dinâmico museu. As esculturas de pedras aparecem nas esquinas, ou nas praças entre repuxos. À sombra de edifícios antigos, professores dão aula de história da arte. Há sempre uma estátua ou um monumento para ilustrar ao vivo um fato histórico ou artístico. A vida presente é a alegria do povo, misturada ao vozerio dos turistas com máquinas a tiracolo, uma verdadeira torre de babel de idiomas diferentes, como se aquela fonte, vista àquela hora da tarde, concentrasse sob suas águas a unidade dos povos. Há gente de todas as raças. Todos querem jogar sua moeda na Fontana de Trevi, a famosa fonte dos amores que faz a pessoa retornar à Roma com o preço de uma simples moeda...
Quando descemos as escadarias da embaixada brasileira, o famoso palácio Doria Pampigli, adquirido por Hugo Gouthier, encontramos em cada patamar uma escultura. As lendas de um fantasma, que aparece à meia-noite e anda pelos corredores do palácio, dão ao recinto um aspecto misterioso. A casa do Brasil organiza exposições de arte, e os representantes de nossa terra aqui sempre deram apoio aos artistas, e são grandes colecionadores de arte moderna. Das janelas da embaixada podemos ver em baixo a praça Navona, cheia de crianças, num dia de sol. O presente e o passado se encontram, e a expansão do cristianismo é simbolizada nas fontes de Bernini, representando os rios Nilo, Ganges, Danúbio e Rio da Prata, que significam a universalidade da igreja católica.
A fé, profundamente ligada à arte nos períodos anteriores de nossa história, transportou à América e ao Brasil, através de Espanha e Portugal, o barroco que atualmente constitui nosso maior patrimônio artístico.
Agora, contemplando as esculturas de Roma, vejo as raízes da arte barroca em Miguel Ângelo e Bernini.
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quarta-feira, 14 de dezembro de 2011
VENEZA CIDADE QUE RESPIRA ARTE
(DIÁRIO DE VIAGEM,1967)
Andamos pelas ruas escuras de Veneza, do outro lado do canal. Minha filha Marília segue à frente, abrindo caminho por entre os becos cheios de lodo, que caracterizam a parte velha da cidade, moradia de famílias pobres. Informaram-nos sobre um museu onde poderíamos encontrar arte oriental, e para ele nos dirigimos. Ao contrário de Roma, os museus aqui são pouco visitados. Subimos uma escadaria de madeira e esperávamos encontrar um museu oriental com seus Budas de ouro, porcelana chinesa, etc. No entanto, logo à entrada, deparamo-nos com dois guardas enormes, vestidos de armaduras medievais, armados de lanças, escudos e capacetes. Sinto um arrepio. A presença do homem que estivera escondido sob a armadura é quase viva e ameaçadora. Um verdadeiro exército de guerreiros armados enfileira-se pelos quatros cantos da sala com um realismo tal que apavora o visitante.
Nossa visita ao museu oriental de Veneza começou por esta sala de armaduras medievais. A história dos povos antigos, suas invasões e lutas estão aqui presentes, num estranho impacto de violência e morte. Os olhos achinesados deste capacete de ferro parecem esconder a crueldade e a vingança. No meio das armaduras, outros olhos policiam nossos gestos. É um guarda vivo que nos acompanha. Encosto-me, sem querer, num dos escudos. Um objeto cai e os guerreiros, empunhando lanças, parecem avançar contra nós. Deixamos a sala dos cavaleiros medievais para descansar na finura da porcelana chinesa. O azul é a cor da paz, e a delicadeza dos vasos pintados nos redimem da agressividade das armaduras de ferro.
( DIÁRIO DE VIAGEM, 2000)
Quando a arte se estende à vida, ela se manifesta com a espontaneidade do canto dos pássaros. Dispensa curadores e intermediários e vai surgindo aqui e ali, sem intenção de ser arte. Surge para celebrar um momento único, uma alegria de viver, espontaneidade nunca repetida.
Estávamos em Veneza, após o encerramento a Bienal intitulada “Ética ou Estética”. Víamos os anúncios em todos os muros. Dentro da Bienal, curadores, marchands, artistas, disputaram prêmios e seleções. Do lado de fora, as gôndolas deslizavam nas águas, seguindo o ritual diário da cidade.
Tomamos um barco, Luciano, Ivana, Ida e eu. Naquele momento Luciano Luppi, neto de italianos, de pé no barco, assumiu a postura de diretor de teatro e diretor de orquestra e foi nos conduzindo pelas águas da cidade.
Há momentos na vida inesquecíveis e aquele deslizar de gôndola pelos canais de Veneza foi um deles. Luciano, não somente nos conduzia, mas também cantava com sua voz de tenor. Cantamos “Roberta”, “Io te amo solo te”, “Dio, como te amo” e “Santa Lucia”, marca registrada da Itália. Ali estávamos para participar de um coro imaginário de cancioneiros e gondoleiros. As janelas se abriam e as pessoas sorriam e acenavam. A cada manifestação de carinho, tomávamos coragem para cantar mais alto e mais bonito.
Naquele dia conseguimos alcançar um instante do maravilhoso. Como se fosse um prêmio dado pela própria vida.
(DEPOIMENTO DO PROFESSOR DR CID VELOSO SOBRE A 54 BIENAL DE VENEZA)
“Esta Bienal foi denominada ILLUMInations (Iluminações) um nome com duplo sentido: enfoque na luminosidade e menção ao Século das Luzes (século XVIII), no qual a Europa ocupou um papel cultural de destaque e a citação das inúmeras nações que participam do evento (89 países). O Brasil participou com apenas um artista, Artur Barrio, o qual, embora tenha nascido em Portugal, morou no Brasil grande parte de sua vida; Barrio apresentou uma instalação que contextualiza o período da ditadura militar brasileira e a violência atual, inclusive evento ocorrido em Belo Horizonte.
As obras foram expostas no Arsenale, no Giardini e em vários pontos da cidade, ocupando uma área de 10 mil m2.
As obras são de arte contemporânea, com ênfase multimídia: esculturas, pinturas, fotografias, instalações, audiovisuais, sons, cinema, luzes. Valeu a pena ver a Bienal, para sentir a capacidade humana de criar, refazer, reler, comunicar, protestar, denunciar, provocar, alertar, sonhar, fantasiar, antever. Contrastando com a arte contemporânea, estão três pinturas do pintor renascentista Tintoretto, com a menção de que era o pintor da luz.
*Fotos de Luciano Luppi, Ivana Andrés e Cid Veloso
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sábado, 3 de dezembro de 2011
VENEZA E A PRAÇA DE SÃO MARCOS
Chegamos a Veneza às 4 da tarde, entre a bruma e a água. Até os postes de luz estão mergulhados dentro d’água e a cidade torna-se ainda mais estranha porque é vista pela primeira vez num dia de névoa. Aparece-nos lentamente, como num sonho. Descobrimos aos poucos suas pontes e palácios, a água chegando até aos alicerces de pedra, ruas estreitas e casas de 3 ou 4 andares.
Viemos de taxi-lancha até Rialto, ponto central da cidade. Em Veneza não há carros, andamos a pé, um carregador à frente com as malas.
O hotel é simpático, chama-se Albergue Malibran e da janela podemos ver e ouvir o movimento em baixo, o toc-toc dos saltos batendo na pedra, as vozes dos italianos discutindo. Tudo em Veneza é pitoresco e romântico, desde as gôndolas cortando as águas dos canais, às pequenas pontes curvas que ligam uma rua à outra.
No centro da cidade, zona comercial, não há canais. Nas ruas estreitas, com lojas de extremo bom gosto, circula o povo que assobia e canta alegremente. Assistimos a um concerto na praça de São Marcos. Ouvimos música sinfônica pela banda municipal da cidade, tendo como fundo de cenário a imensa catedral, cujas torres ora se erguem para o céu, ora se perdem na bruma da noite. Lampiões acesos, mesinhas de bar invadindo a área da praça, música, o povo religiosamente escutando, tudo isto nos fez sentir em Veneza um espírito completamente diferente daquele que percebemos em Roma.
Roma é uma cidade extremamente materialista, e apesar de ser a sede da igreja católica, não tem a espiritualidade que lá desejaríamos sentir. Tudo em Roma é força, mostrando o apogeu do poderio humano. Veneza é leve, graciosa, cheia de pombas voando. Veneza é um barco que desliza sobre as águas, e os venezianos vivem num imenso navio. Há várias lanchas que circulam pelo grande canal e param de um lado e do outro, levando o povo para os diversos bairros da cidade. Assistimos a um cortejo nupcial, a lancha dos noivos toda enfeitada de flores.
No trajeto da lancha-taxi, podemos observar os grandes palácios venezianos de lampadários acesos, escadarias de mármore e os alicerces de pedra cobertos de um lodo muito verde. No tempo das águas, estas casas devem ter os seus primeiros andares completamente submersos.
Os venezianos, durante a invasão dos bárbaros nos séculos IV e V, viram-se obrigados a se refugiarem no meio da laguna. Ali construíram suas casas de madeira, sobre estacas. Mais tarde, abriram canais para dirigir o fluxo das águas e formaram esta cidade. É com pesar que imaginamos sua completa submersão, prevista para daqui a alguns anos.
Estamos debruçadas nas sacadas do palácio dos Bórgia em Veneza, construído ao lado da Basílica de São Marcos. Em baixo, as pombas misturam-se aos turistas, e entre flashes e revoadas conseguimos observar o panorama característico da cidade. No Mar Adriático em frente, passam embarcações também cheias de turistas, gente do mundo inteiro. A Itália é um monumento de arte e o turismo deve ser uma de suas principais fontes de renda. As igrejas não têm bancos, nem o silêncio necessário à oração. São museus. Guias acompanham bandos, legiões de forasteiros e explicam tudo em línguas diferentes. Inglês, francês, alemão, espanhol. O italiano nascido e vivido aqui só fala o italiano.
A enorme basílica de São Marcos, na semi-obscuridade, brilha no ouro dos mosaicos de suas paredes e abóbadas e refulge nos relicários. Sente-se o espírito oriental e a inspiração bizantina no preciosismo de cada detalhe e na unidade do conjunto. São Marcos é requintada e simples ao mesmo tempo. O mesmo espaço de pedra da praça continua dentro da igreja, mas em piso de mosaico, ligeiramente ondulado pela terra em baixo, que ameaça ceder. Na praça, ouve-se música. Veneza é cidade essencialmente musical. Há alegria, movimento, música pelas ruas e a despreocupação completa do tráfego. A condução para a travessia dos canais é a antiga e famosa gôndola veneziana.
*Fotos da internet
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terça-feira, 22 de novembro de 2011
PLAKA E A ILHA DE HYDRA
Plaka é um bairro de Atenas, onde se encontram as boutiques pitorescas da cidade. Ruas estreitas, casas antigas lembrando Ouro Preto, lojas de bijuterias, sacolas, tapetes bordados, vasos gregos. Turistas sobem as ladeiras, que às vezes são escadarias, à procura da arte local.
À noite, os barzinhos acendem suas luzes e os atenienses reúnem-se em bandos, assistindo a espetáculos de danças gregas, shows característicos da região. No alto do tablado, ao som de música, dois rapazes dançam uma espécie de luta que me recorda o jogo de capoeira da Bahia.
Atravessamos o Mar Egeu num barco cheio de turistas, vendo as espumas espalharem-se junto ao casco do navio. Atenas se afasta e, depois de algum tempo, as pedreiras anunciam uma nova paisagem. Fachadas de casas cor-de-rosa começam a aparecer e, tão logo descemos, encontramos pequenas lojas mostrando objetos de artesanato, tapeçarias, cerâmica. Pulseiras com incrustações de deuses da mitologia revelam sobriedade de gosto. Deixamos Istambul com suas jóias requintadas, e agora observamos a simplicidade grega manifestada através do trabalho de seus artesãos.
Em Hydra, a influência bizantina se faz sentir nos ícones da igreja ortodoxa, com cenas da vida de Cristo reproduzidas em miniaturas sobre fundo de ouro.
A história de Hydra é uma página de heroísmo dentro da história grega. A pequena ilha, cheia de montanhas e acidentes geográficos, resistiu às invasões, tendo os proprietários das terras colocado todos os seus recursos econômicos à disposição do governo, para a defesa da cidade. Hydra manteve-se livre dos conquistadores, defendendo o ideal de liberdade apregoado por seus grandes antepassados.
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quarta-feira, 9 de novembro de 2011
CORINTO
Corinto fica situada a algumas milhas de Atenas. Enquanto andamos pelas ruínas da cidade, uma rua de pedras e colunas desmoronadas, revivemos um pouco da história grega, seus aspectos pitorescos, inclusive a famosa greve das prostitutas. Corinto foi lugar de perdição, onde as jovens sacerdotisas eram usadas como escravas, a serviço dos sacerdotes pagãos. “Um dia, percorrendo em procissão a cidade, negaram-se a receber clientes, até que suas reivindicações fossem atendidas”. Este fato é conhecido como a greve mais antiga da História. Ao povo de Corinto, São Paulo trouxe o Evangelho de Cristo, e a cidade do pecado levantou-se para ouvir o apóstolo. No centro de uma muralha, em meio às ruínas da cidade, o símbolo de Cristo foi impresso na pedra.
Podemos ver a colina e o que restou da antiga civilização. Corinto parou no passado. O mato cresce e se enrosca às colunas, e turistas curiosos se detém nas inscrições. Depois de uma época de glórias, a cidade, outrora freqüentada por intelectuais e artistas, reduziu-se a um amontoado de pedras. A dominação turca destruiu parte das obras de arte gregas, e a maioria das esculturas que resistiram à violência pertence hoje ao Museu Britânico.
A lembrança de Sócrates e Platão projeta-se nas pedras de Corinto. Sócrates, desprezando os deuses, induzia os jovens a agirem de acordo com a própria consciência. Considerado líder subversivo, foi levado a ingerir cicuta e morreu. Mas, sobre suas idéias, que não puderam ser ouvidas na época, foram construídos sistemas que até hoje encontram ressonância no comportamento da juventude de nossos dias. Em filosofia e arte, os gregos abriram caminhos novos que marcam o mundo ocidental.
As teorias de Platão, no que se refere à arte, até hoje são os fundamentos do construtivismo. Platão situava a beleza ideal na forma pura, livre do prurido do desejo. Suas idéias coincidem com todas as correntes artísticas onde a razão se antepõe à emoção :clássico e neoclássico, cubismo e construtivismo, concretismo e arte cinética. A procura da forma ideal, destituída de qualquer ligação com as emoções, crenças ou afetividades do homem, são direções indicadas pelo pensamento platônico: o uso da régua e do esquadro, a escolha das formas geométricas simples, o computador que densensibiliza o traço, são características atuais de idéias platônicas.
A linha do pensamento grego atravessa tempo e espaço e se projeta nos quadros de Mondrian, nas esculturas construtivistas de Max Bill, na arte cinética de Vasalery. Se em Istambul pudemos testemunhar o confronto geográfico de dois continentes, agora, em Atenas, nas ruínas de Corinto, relembrando os grandes intelectuais gregos, refletimos sobre as direções que o mundo tomou, dirigido por pensamentos opostos.
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domingo, 30 de outubro de 2011
MUSEU TOPKAPI, ISTAMBUL
Aquela esmeralda imensa reflete luzes coloridas como um caleidoscópio. Lembro-me de um filme de suspense passado no Brasil há alguns anos, cujo drama se desenrolava neste museu que agora visitamos. Um punhal de pedras preciosas, brilhando por detrás das vitrines, me faz recordar detalhes do filme.
O museu Topkapi exibe a riqueza dos antigos califas, e o gosto oriental pelos objetos rebuscados. Vasos de cerâmica adornados com pérolas e pedrarias, espadas com diamantes, caixas de música banhadas de ouro.
Houve uma época em que os poderosos senhores não permaneciam muito tempo num lugar. À chegada do inimigo, fugiam, carregando, às pressas, os objetos de arte mais preciosos. Muitos desses objetos podemos apreciar agora, enquanto percorremos o grande Museu. O requinte se estende aos berços dos príncipes e aos tronos dos reis. A ourivesaria oriental nos lembra as histórias extraordinárias que escutamos na infância. E agora, elas estão aqui, diante de nós, resplandecentes de luzes, numa concretização real do fantástico.
No Bazar de Istambul, o mais famosos bazar do mundo, encontramos cópias dessa arte requintada, cheia de pedrarias. Turistas compram amuletos de sorte ("against the evil eye"), segundo dizem aqui: um olhinho azul pequenino que espanta o mau-olhado. Os orientais cultivam um misticismo, às vezes supersticioso, e acreditam nos maus fluidos de pessoas invejosas. Existem sinos da sorte do Japão à Turquia, guizos da felicidade, placas contra acidentes, etc.
Em muitos templos orientais, pode-se ler a sorte. Se as previsões não forem boas, amarra-se o papel a uma árvore, para que o vento o leve. Por todo o Oriente vêm-se, nos jardins dos templos, entre incensos e velas, árvores repletas de papeizinhos amarrados.
*Fotos da internetVISITE TAMBÉM MEU OUTRO BLOG "MINHA VIDA DE ARTISTA", CUJO LINK ESTÁ NESTA PÁGINA.
sábado, 22 de outubro de 2011
MESQUITA AZUL E SANTA SOFIA EM ISTAMBUL
Estamos em Istambul, Turquia, e esta é a famosa Mesquita Azul. Não se vêm santos nas paredes, os vitrais resplandecem de cores e dão uma luminosidade fantástica ao ambiente.
Um velho de longas barbas está sentado sobre tapetes persas, lendo o livro sagrado, enquanto 40 homens o escutam.
A Meca dos peregrinos muçulmanos não é despojada. O chão é coberto de tapetes, e o vazio faz sobressair a grandiosidade. Os homens se curvam em frente às paredes nuas. Não se vêm ídolos, nem ícones, ou qualquer alusão à figura humana. O espírito de religiosidade transparece no respeito ao lugar santo.
Não há mulheres no templo, somente os homens escutam as palavras sagradas, para depois levá-las às suas esposas. A condição da mulher no Oriente ainda é de completa submissão. A tradição de superioridade masculina, herdada pelos antepassados, parece estender-se até os dias de hoje. Mas agora, os costumes orientais misturam-se aos ocidentais.
Istambul é a única cidade do mundo que liga, em seu próprio território, dois continentes. Uma ponte separa a Ásia da Europa, e enquanto atravessamos o Estreito de Bósforo, podemos observar de um lado a Ásia, com suas mesquitas de torres pontiagudas, e do outro lado, a Europa, marcantemente Ocidental. O encontro dos dois mares, o Mar Negro e o Mar de Mármara, é contraste geográfico que podemos observar das vidraças do barco. O guia nos explica, em inglês, um pouco da história da cidade, suas lutas e o espírito de conquista de seus antepassados. Tudo em Istambul nos faz lembrar a tradição guerreira do povo que outrora constituía uma ameaça para os países vizinhos. Há castelos e fortalezas à beira-mar, sentinelas do inimigo. Ali se escondiam os turcos, aguardando represálias. Na igreja de Santa Sofia, hoje despojada e pintada de branco, também lembramos os episódios guerreiros, e enquanto escutamos as palavras do guia, parece-nos ouvir o eco do tropel dos cavalos e a luta dentro da imensa nave.
A igreja de Santa Sofia, construída por Justiniano, mostra no presente a conseqüência de guerras e invasões.
Imaginava uma igreja fulgurante de mosaicos coloridos, com folhas de ouro, colunas de mármore, tudo resplandecente, como a história diz. No entanto, como medida de proteção, todas as obras de arte foram cobertas de pátina, que aos poucos está sendo retirada pelos restauradores, e Santa Sofia oferece ao visitante apenas a sua grandiosidade despojada.
*Fotos da internet
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sábado, 15 de outubro de 2011
ASSIS
Um frio de princípio de inverno, o céu muito azul e o casario surgindo no alto da colina, marcou nosso primeiro encontro com Assis.
Assis, berço de S. Francisco e Santa Clara é uma cidadezinha construída no alto do monte Subasio, dominando imensa planície verde de terra cultivada. O mosteiro enfrenta a paisagem com suas torres e arcos. Do terraço do hotel podemos sentir o silêncio da natureza e a poesia dos campos.
Tudo em Assis reflete um impulso místico, que começou no passado e se estende como que por milagre até os dias de hoje. A força poderosa do Santo recolhido nestas montanhas, seu profundo misticismo, não se perderam nem se materializaram com o tempo. O santuário de Assis é um dos belos da Itália e, no tumulto do século XX, continua a ser um local de oração, um momento de meditação, nesta Europa dominada pelo excesso de turistas, de gente que quer ver, ouvir explicações históricas, levar lembranças para os amigos, gente que pára nos camelôs e compra amuletos, souvenires, medalhas, nas escadas das igrejas, nas sacristias, mas que nem sempre consegue absorver espiritualidade, porque se revestiu de couraça material.
Assis não é cidade de turistas, mas de peregrinos, e não tem contradições de mau gosto: construções de pedra cor-de-rosa, ruas de escadas, pequenas capelas escondidas nas ladeiras. Uma destas capelas é a de Santo Estevão, perto da igreja de Santa Clara. O corpo da Santa acha-se como foi encontrado, intacto no túmulo. Por detrás das grades, deitada em seu leito de morte, ela é exposta à visitação pública. Milhares de peregrinos descem o subterrâneo para venerar aquele corpo, que por suas virtudes, preservou-se da destruição. Na mesma igreja, pode-se ver o crucifixo que falou a São Francisco, pintado sobre madeira, como todos os crucifixos bizantinos. As romarias, as velas acesas, as esmolas e a curiosidade diminuem o poder místico do recinto.
Descemos a ladeira para encontrar o silêncio novamente na capelinha de Santo Estevão. Sentados naqueles bancos rústicos, observamos a simplicidade do recinto e o misticismo daquele local de oração. Santo Estevão, em Assis, lembra Ronchamp, na França. A capelinha de pedra, despojada, é iluminada por janelas retangulares, vazadas nas pedras da parede. Sentimento semelhante deve ter inspirado Le Corbusier em Ronchamp: a procura da paz através do despojamento completo. No mundo dinâmico em que vivemos, na agitação própria das grandes cidades, cada vez diminuem estes pequenos oásis, que despertam o encontro com nossa própria alma e um Ser superior. Difícil qualquer sentimento religioso em meio ao vozerio, ao acotovelamento, moedas tinindo e a curiosidade turística.
A paz de Santo Estevão nos faz reviver, de certo modo, o que apenas conseguimos vislumbrar, de passagem, na multidão cercando o túmulo de Santa Clara. Santo Estevão é místico, silencioso e humilde. O sacrifício do jovem mártir nos emociona.
Lembro-me daquela sala pequenina, no imenso prédio das Nações Unidas em Nova York , lugar de meditação para qualquer religião, sem distinção de credos. A sala é vazia, despojada, e um orifício no teto projeta um raio de luz na penumbra. Aquele raio de luz vindo do alto sugere todos os anseios da humanidade e nos desperta para um encontro com o eterno. Temos necessidade deste silêncio, para compensar a agitação de nossa vida. E, como o raio de luz da sala de meditação das Nações Unidas, também a penumbra desta capela suscita vivências místicas. Assis é uma benção, para quem procura a paz.
A Capela de São Francisco de Assis em Belo Horizonte reuniu num projeto inovador grandes artistas do modernismo brasileiro como Niemeyer e Portinari e hoje é considerada símbolo e cartão postal de nossa cidade.
*Fotos da internet
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sábado, 8 de outubro de 2011
QUEIMADAS NO RETIRO DAS PEDRAS
Na última semana de setembro, os moradores do Retiro das Pedras participaram de um espetáculo dantesco.Viram o fogo das queimadas subindo pelo morro, a fumaça perturbando a visão, o vento soprando forte e a falta de recursos para impedir a circulação rápida das labaredas. Foi o pior incêndio que o Retiro das Pedras sofreu, desde que ali fixei minha residência há 35 anos. Já presenciei outros incêndios com o povo se unindo para ajudar. A solidariedade humana se manifesta com mais clareza nas horas em que a vida pressiona. E foi justamente a solidariedade reunindo pessoas de diferentes idades e classes sociais, que impediu um desastre maior. As chamas alcançaram 3 metros de altura, queimando árvores, animais e toda a vegetação rasteira. Agradecemos às brigadas de incêndio que atuaram com heroísmo e aos condôminos que se prontificaram a defender as residências da orla, abrindo um aceiro em torno do condomínio. No dia seguinte recebi pela internet algumas fotos da queimada e me lembrei de um quadro meu da fase de guerra, datado de 1969, muito semelhante a esta destruição pelo fogo que estamos presenciando no momento. Na realidade assistimos a uma guerra contra animais e plantas, uma destruição em massa de todas as formas de vida da região. Os animais rasteiros, alucinados pelo calor, buscavam salvação nos lugares mais seguros. Haviam cobras perdidas na Praça do Sol e pássaros assustados nas árvores das residências. A paisagem se cobriu de cinzas e os moradores se uniram para providenciar medidas mais seguras.
O fogo devastou 1 milhão de metros quadrados de vegetação. Fortes ventos e topografia íngreme contribuíram para o avanço das chamas em várias direções. No Brasil assistimos todos os anos, queimadas acontecendo na época da seca, assim como inundações na época das chuvas.
Em Brasília uma grande área de preservação foi totalmente destruída pelo fogo, sem possibilidade de recuperação de documentos e estudos. Em Betim, próximo a BH, o fogo destruiu também grande parte de uma área de preservação matando plantas e animais.
Este é o grande tributo que estamos pagando pelos erros que nós mesmos praticamos no decorrer de muitos anos.
*Fotos da internet
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quinta-feira, 6 de outubro de 2011
terça-feira, 20 de setembro de 2011
O ZEN E A ARTE DE VIAJAR
"O Zen e a arte de viajar”, foi tema de uma palestra no Centro de Budismo Ocidental, em Kathmandu, no Nepal.
Sentados no chão, vinte alunos ocidentais vindos da Europa, da Austrália, dos Estados Unidos e do Brasil escutavam atentos as explicações do jovem instrutor.
“Somos todos viajantes, estamos aprendendo na grande universidade da vida, sem currículos e diplomas. Viajar é um grande aprendizado. A viagem nos possibilita a vivência do agora, o desapego e a aceitação das mudanças da vida. Somos viajantes e temos que nos submeter às diferenças climáticas e culturais, também aos espaços sem conforto”.
- “As mudanças são necessárias para o nosso crescimento”, nos diz o jovem inglês. A partir das mudanças externas, uma outra viagem descortina-se para nós, a viagem para dentro de nós mesmos. Viajar com disposição de aprender acelera o nosso processo de auto-conhecimento. Em busca do Conhecimento, os sábios antigos andavam a pé pelo país, peregrinando de cidade em cidade.
Só o fato de sair da rotina coloca-nos mais atentos ao momento presente, ao novo que surge a cada instante. Compreender a impermanência é um aprendizado de vida. Quando estamos viajando mudamos de cenário a cada momento e isso nos ajuda a aceitar a impermanência física, psicológica e mental. As coisas que aconteceram ontem não existem mais, cada minuto que passa desaparece no vazio.
Viajar é bom para auto-descoberta. Ficamos sabendo como somos quando arrumamos nossas malas. Quanto maior for a nossa bagagem, maior é a nossa insegurança. Queremos levar tudo, carregar a proteção nas costas e cruzar o rio da vida com nossos pertences. São eles, roupas, sapatos, compras, livros, remédios... Eu observava o despojamento das pessoas em torno e ficava admirada.
- “Mas, a sua bagagem é só isso? Um cobre leito, dois vestidos e uma sandália?”
Ali não havia preocupação com o consumo. As pessoas querem aprender a viver e a conscientizar-se da vida, sem ilusão de acumular coisas. O despojamento traz sempre grande liberdade. A simplicidade é a tônica. O não consumismo é a grande sabedoria.
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