Artista plástica, ex-aluna de Guignard. Maria Helena Andrés tem um currículo extenso como artista, escritora e educadora, com mais de 60 anos de produção e 7 livros publicados. Neste blog, colocará seus relatos de viagens, suas reflexões e vivências cotidianas.
sexta-feira, 20 de dezembro de 2013
DANÇA DAS MARÉS
A arte, num
reencontro feliz de ética com estética, busca a reeducação do ser humano nos
diversos setores da sociedade. Escolhe os menos favorecidos como ponto de
referência e alarga os seus horizontes para dimensões maiores. Busca os espaços
onde a violência é uma constante, ali levanta o seu estandarte de paz. Exemplo
disto é o espetáculo de dança e música dirigido pelo coreógrafo paulista Ivaldo
Bertazzo. Ele foi apresentado no SESC Tijuca, no Rio de Janeiro em parceria com
o grupo UAKTI de Belo Horizonte.
A Dança das Marés foi inspirada na dança Kathakali, original do estado de Kerala, no sul da Índia. Ivaldo Bertazzo é estudioso da filosofia da Índia e de lá trouxe inspiração para essa coreografia. Na Índia, as apresentações de dança são acompanhadas ao vivo por um conjunto musical. Para esse projeto foram convidados dois mestres músicos da Índia a fim de orientar os jovens: um tocador de tabla e uma dançarina indiana de Kathakali, que permaneceram dois meses no Brasil. A dança da Índia expressa simbolicamente o desejo da alma individual de alcançar a Unidade com o infinito, ou a alma do Universo. Através da música e da dança, esse objetivo é alcançado e o estado de Ananda, ou Bem-aventurança, vivenciado pelo dançarino ou o musico, é transmitido à platéia.
No SESC Tijuca foi armado um palco semicircular, todo em tons de terra. O público, assentado nas arquibancadas, estava também dentro do imenso palco. Um tapete esticado no chão dava passagem para o público que subia os degraus da arquibancada, lotando o anfiteatro. Observamos o espaço, a sobriedade de recursos usada pelo cenógrafo, a iluminação e o núcleo reservado aos músicos, com os instrumentos do grupo UAKTI arranjados como uma instalação. No centro do palco, uma bola dourada se mantinha suspensa por um cordão de aço, como um enorme pêndulo reluzente. A dança seguia o ritmo dos tambores e flautas, harmonizando os passos com os sons dos instrumentos criados com tubos e marimbas. A Dança das Marés, com seus jovens componentes que moravam na favela da Maré, no Rio de Janeiro, nos fazia refletir sobre o papel da arte neste princípio de milênio.
A função da arte em sua essência é a transformação do ser humano. Essa transformação é obtida no próprio exercício da arte, no movimento que conduz o corpo de forma harmoniosa ao encontro de seu próprio self. Os iogues se tornam um com o universo através da meditação. Os músicos e dançarinos também realizam essa união, conjugando o movimento do corpo com a vibração do som. O encontro do Oriente com o Ocidente, que veio se processando de forma acelerada no final do século XX, tem agora a grande possibilidade de realizar a síntese planetária.
A Dança das Marés foi inspirada na dança Kathakali, original do estado de Kerala, no sul da Índia. Ivaldo Bertazzo é estudioso da filosofia da Índia e de lá trouxe inspiração para essa coreografia. Na Índia, as apresentações de dança são acompanhadas ao vivo por um conjunto musical. Para esse projeto foram convidados dois mestres músicos da Índia a fim de orientar os jovens: um tocador de tabla e uma dançarina indiana de Kathakali, que permaneceram dois meses no Brasil. A dança da Índia expressa simbolicamente o desejo da alma individual de alcançar a Unidade com o infinito, ou a alma do Universo. Através da música e da dança, esse objetivo é alcançado e o estado de Ananda, ou Bem-aventurança, vivenciado pelo dançarino ou o musico, é transmitido à platéia.
No SESC Tijuca foi armado um palco semicircular, todo em tons de terra. O público, assentado nas arquibancadas, estava também dentro do imenso palco. Um tapete esticado no chão dava passagem para o público que subia os degraus da arquibancada, lotando o anfiteatro. Observamos o espaço, a sobriedade de recursos usada pelo cenógrafo, a iluminação e o núcleo reservado aos músicos, com os instrumentos do grupo UAKTI arranjados como uma instalação. No centro do palco, uma bola dourada se mantinha suspensa por um cordão de aço, como um enorme pêndulo reluzente. A dança seguia o ritmo dos tambores e flautas, harmonizando os passos com os sons dos instrumentos criados com tubos e marimbas. A Dança das Marés, com seus jovens componentes que moravam na favela da Maré, no Rio de Janeiro, nos fazia refletir sobre o papel da arte neste princípio de milênio.
A função da arte em sua essência é a transformação do ser humano. Essa transformação é obtida no próprio exercício da arte, no movimento que conduz o corpo de forma harmoniosa ao encontro de seu próprio self. Os iogues se tornam um com o universo através da meditação. Os músicos e dançarinos também realizam essa união, conjugando o movimento do corpo com a vibração do som. O encontro do Oriente com o Ocidente, que veio se processando de forma acelerada no final do século XX, tem agora a grande possibilidade de realizar a síntese planetária.
Fotos da internet
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quarta-feira, 27 de novembro de 2013
ARTE E EVOLUÇÃO HUMANA NA VISÃO DE SRI AUROBINDO
Em
1979, visitei uma comunidade na Índia
cujo modo de viver tem atraído pessoas no mundo interior. Seu fundador, Sri
Aurobindo, foi o pensador oriental que mais se aproximou de nossa civilização.
Procurava um entrosamento das idéias espiritualistas do Oriente com o dinamismo
progressista do ocidente. Sua filosofia, baseada na evolução, prevê a
transformação do homem acreditando que “por detrás da inteligência existe em
todo o ser humano outra ordem de consciência ainda oculta, que espera o momento
de surgir.”
A
insatisfação do homem, seu desejo de progredir, é uma prova disto. Essa sede de
progresso que nos impulsiona para a evolução não se prende apenas ao raciocínio
lógico, mas o ultrapassa. A evolução, processada anteriormente pelas forças da
natureza, seria realizada agora conscientemente, no próprio homem, através de
praticas, exercícios e o desenvolvimento e suas energia internas.
Tendo
sido educado na Europa e conhecendo bem a civilização ocidental, Sri
Aurobindo considerava impossível
dominarmos as conquistas da ciência e da técnica sem a ajuda de um poder maior
do que a inteligência. O desenvolvimento interior através da ioga integral
viria despertar nossas potencialidades adormecidas, conduzindo-as à ação. A
busca e a educação dessas energias existentes em todo o ser humano são formas
de atividade que identificam a filosofia do mestre. Tornar consciente o que
está inativo e forçá-lo a atuar, despertar, discernir, desapegar-se, agir,
purificar-se e evoluir. A transformação se realizaria inicialmente em cada
pessoa que já estivesse preparada, mais tarde atingindo a todos. Essa evolução
para um plano mais alto de existência se efetuaria normalmente através do
desenvolvimento das aptidões de cada um, considerando-se que o trabalho feito
com amor conduz ao aperfeiçoamento da pessoa. Qualquer forma de atividade pode
ser considerada veículo de evolução. O trabalho assim realizado prevê a ajuda
mutua e o espírito comunitário. O trabalho feito com idealismo transforma e
purifica o homem. A vocação já é o chamado para a evolução. Bloqueá-la
significa atraso.
A
criatividade também ajuda a despertar as energias interiores. Através dela,
usamos a intuição que nos conduzirá à descoberta da realidade interna. O exercício
da criatividade, em todos os seus aspectos - científicos, filosóficos,
artísticos - ajuda em nossa integração, conduzindo-nos a planos mais altos. É
necessário despertá-la por meio da arte na educação e do incentivo aos artistas
e pesquisadores. Mas a evolução exige o aperfeiçoamento total do homem. Baseado
nisso, Sri Aurobindo incentivou o esporte, acreditando que o corpo deveria se
fortalecer para ajudar na transformação espiritual que se processaria através
dele. Suas idéias unificam matéria e espírito. O progresso tecnológico avança,
impulsionado por outras forças que ultrapassam as dimensões da inteligência e
do raciocínio lógico. Dentro desse impulso totalizante e unificador, o homem
crescerá para a sua evolução.
A
experiência comunitária de Sri Aurobindo apoiada pela UNESCO traz-nos a
mensagem de esperança. Suas idéias, aliando a agudeza do ocidente com a
iluminação do oriente, conduzem-nos a reflexão. Nossas forças também poderão
ser dirigidas e transformadas para que o homem do futuro possa encontrar uma
humanidade melhor.
*Fotos de Maurício Andrés e da internet
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quarta-feira, 13 de novembro de 2013
NEPAL
Estou no Nepal. O céu muito azul, montanhas
circundando a cidade, lembrando Minas Gerais, Belo Horizonte, Ouro Preto,
Retiro das Pedras. O mesmo céu, a mesma situação geográfica. 4000 pés acima do
nível do mar. No inverno há neve e gelo, estamos no verão na Índia, 40 ° em
Madras de onde saí. Aqui a temperatura é agradável e a altitude me pôs de cama
o primeiro dia. Há hippies nos bairros da cidade, na zona comercial. Aqui é o
bairro dos grande hotéis, do palácio real. Meu hotel é modesto, parece uma
fazendinha. Acordo com os passarinhos cantando, com os galos anunciando um novo
dia. Tenho de sair de casa para almoçar e jantar. Desço as ruas até o
restaurante chinês. No caminho observo as casas, as varandinhas de madeira, as
janelas de grade, antigas, os compartimentos pequeninos onde os nepalenses
fazem seu comércio, seus negócios. Lembra Ouro Preto, mas também a China, o
Japão. Os pagodes chineses vieram daqui e do Tibet. O estilo arquitetônico dos
pagodes começou nos himalaias, berço da arte, cultura, civilização , costumes,
religião. As caras dos nepalenses lembram os peruanos, bolivianos, mas também
aquele olhinho puxado dos chineses. O mundo é realmente uma unidade e o planeta
terra neste universo de estrelas não pode ter a pretensão de se dividir. Somos na
realidade uma só e única família. Sentimos isto nas fisionomias, no jeito de
ser; os nepalenses residem em lugares montanhosos, os peruanos também. Carregam
seus filhos nas costas, enrolam panos na cintura para carregar pertences (nada
de bolsas ocidentais). Os sáris não têm a graça dos indianos, são sóbrios, sem
bordados. As comidas tem influência chinesa e tibetana. Vejo os costumes
chineses de carregar mercadoria – muito prático – um pedaço de bambu e dois
cestos, cada um de um lado, presos nas pontas por cordas. A idéia é ótima,
porque o corpo não carrega o peso todo, não traz problemas de coluna. Seria uma
ótima idéia se fosse adotado nas fazendas brasileiras. Como tudo nasceu nas
montanhas, fico achando que muitos dos costumes chineses não são chineses, mas
nepalenses. Às vezes vejo carinhas de brasileiros, do Paixão, do Juscelino...
Meu dentista (tive de arrumar um) é a cara do Juscelino. Deve ser bom, pois é o
dentista do Rei. Estudou em Londres e não acredita em homeopatia. Fui dizendo
“Tive um problema, um abscesso, cuidei com homeopatia”. “Para abscesso? Só
antibiótico!”
No dia seguinte cheguei com as radiografias, antes e
depois. Ele examinou, olhou... “Sarou, não tem nada.”
Hoje vou correr os mosteiros. A paz de Buda é
diferente, Buda é um estado de consciência que os ocidentais chamam de
intuição. Para entrar nele só transcendendo o ego e o intelecto , os conceitos,
teorias, fórmulas. Sair da forma e entrar na essência – sabedoria, caminho do
meio, equilíbrio corpo, mente, espírito. Somos uma só unidade. Enquanto nos
dividimos, sofremos. Para crescer é preciso estar só, sentir-se só... Até que a
gente percebe que não está só. Que o mundo inteiro é irmão, não existem
fronteiras, divisões, separações. As caras são iguais, um sorriso, quando
sorrimos estamos felizes. Por que não sorrir sempre para tudo e todos? Buda
recomenda sorrir na meditação.
A rua está cheia de gente passando. Estou em
Anapurna, bairro hippie. Há gente de toda parte do mundo.
*Fotos da internet
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terça-feira, 29 de outubro de 2013
ITRI
Dando continuidade aos
relatos de viagem à Itália, pedi a colaboração de Ivana, que selecionou de seu
diário de viagem, um depoimento sobre a nossa passagem a Itri, situada no sul
da Itália, perto de Nápoles.
“Na estação terminal de Roma
todos os trens são completamente pichados, pichações enormes que integram as que
devem aparecer nos muros da cidade. O trem que irá nos deixar em Formia acaba
de sair de Roma. Nos arredores se vêm ruínas, arcos que se estendem por
quilômetros, muros, colunas de antigas construções. Por todo lado existem o que
eles por aqui chamam de ruínas romanas. Até dentro das casas existem pedaços de
cerâmica, como souvenirs, curiosidades. À medida que o trem avança, se vêm
outras ruínas: os cemitérios de automóveis, empilhados como brinquedos quebrados.
Hoje pela manhã fui sozinha à
praia. O sol lançava um brilho forte sobre o mar e sobre centenas de seixos da
praia. Os poucos transeuntes eram todos homens, vestidos com jaquetas e
sapatos, inclusive os poucos que tomavam sol não usavam roupa de banho, queimando
apenas o rosto. Senti que, por incrível que pareça, mesmo estando em plena
Europa, escandalizei com o meu short e biquíni.
Cazilda, Stéfano e seu filho
Giuseppe, de 10 anos, vieram nos buscar na Estação de Formia. Situada a 100 km
de Nápoles, Formia é uma cidadezinha à beira mar com seu cais e suas ruelas
medievais. Depois de uns 25 minutos rodeando montanhas e vales, chegamos à casa
de campo onde eles moram. A casa tem 3 andares: sala e cozinha embaixo, 3 quartos
no segundo andar e um mezanino cheio de colchões e camas onde, em dia de festa
se ajeita muita gente. Por sinal parece que festas por aqui acontecem sempre.
Depois de um jantar super gostoso, apareceram 2 amigos, um músico e um poeta,
para ensaiar um espetáculo. Estão naquela fase de experimentação onde vale
tudo, idéias as mais loucas são jogadas na roda e todo mundo improvisa. Acordeon, pandeiro, reco-reco, chocalho na latinha
de arroz e a fantástica zanphonia do Stéfano acompanhavam Cazilda tocando seu
pífano. A zanphonia é um instrumento medieval que se vê, nos quadros de
Brueguel, sendo tocada em tabernas. Ela tem, ao lado de um feixe de 4 sopros de
madeira, uma enorme bolsa de couro que se enche de ar parecendo um bichinho
vivo. O som é possante e abafa facilmente outros instrumentos a não ser
instrumentos de sopro bem agudos como o pífano. A origem desses instrumentos
remonta aos pastores italianos que,
durante a época de Natal, saíam às ruas. Stéfano e Cazilda, resgatando esta
tradição, têm tido no final do ano, muito trabalho e uma boa resposta do
público. Querem criar agora espetáculos alternativos para o resto do ano e esta
parceria com músicos e poetas locais poderá ser interessante. Romano, o poeta,
iniciava sua interpretação no dialeto Itri, o que nos dava uma sensação de
estranhamento e fascínio diante de uma língua nova. De repente entrava o
acordeon de Ensor, o músico, pessoa super expressiva e brincalhona, acompanhado
pelo pífano de Cazilda. Stéfano abafava todos os sons com sua zanphonia
possante e grave. Súbito Giuseppe surpreendia a todos tirando não sei de onde
um reco-reco de bambu que fazia uma algazarra dos diabos. Eu e minha mãe ríamos
deliciadas com aquela “casa de loucos” que é a casa dos artistas. Sei apenas
que, em poucas horas brincamos com músicas de várias épocas e lugares, indo
desde o canto de mantras até o carnaval, regado à legítima cachaça brasileira.”
(Ivana Andrés, Viagem à Itália, ano 2000)
*Fotos da internet
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domingo, 6 de outubro de 2013
UMA VIAGEM À TOSCANA
Recebi de Maurício Andrés o relato
abaixo, sobre recente viagem à região de Toscana, na Itália.
“Visitamos Teresa e Alberto em Vico
D’Elsa, uma das muitas pequenas cidades situadas em topos de morro no vale do
rio Elsa, na Toscana.
Com eles passeamos em pequenos burgos
medievais nas redondezas, tais como San Gimignano, com suas seis torres altas;
e Certaldo, onde havia um festival de comidas ecológicas. Na Itália é muito
forte o movimento pelo alimento quilometro zero, o que significa a produção e o
consumo de alimentos produzidos localmente, sem transportes a grandes
distâncias. Provam-se e comercializam-se
de queijos, de azeites, de vinhos produzidos nas redondezas com métodos
naturais da agricultura orgânica, sem uso de agrotóxicos ou de transgênicos.
A região era passagem dos peregrinos que
vinham da catedral de Canterbury, na Inglaterra, bem como de toda a Europa,
para Roma e dali seguiam para Jerusalém. A via Francigena, com mais de dois mil
quilômetros, era o caminho que percorriam. Ao longo dela há muitos lugares de
pouso para os peregrinos, tais como Monteriggione.Uma menção especial merece
Siena, com suas construções ocres e marrons, sua praça em forma de uma concha
onde todas as linhas convergem para um bueiro de drenagem e onde se realiza
duas vezes por ano a festa do Palio, com corridas de cavalos e disputas entre
as várias partes da cidade. A catedral de Siena, com seu piso em mármore
totalmente trabalhado com motivos figurativos e geométricos é um espetáculo à
parte.
Poggibonsi é a parada de trem nas
imediações. Fomos e voltamos de trem de Florença e no verso da passagem há
informações sobre como o viajante no trem emite menos gases de efeito estufa do
que quando se viaja de avião. É um modo de transporte econômico, ecológico,
agradável, contempla-se a paisagem.
A Toscana, e especialmente o seu relevo e
geomorfologia, se parece com a paisagem dos campos das Vertentes em Minas
Gerais, a Toscana brasileira. A vegetação é diferente, pois lá tudo é muito
cultivado com uvas para o vinho ou com oliveiras para a produção do azeite. O
gado é confinado e alimentado com feno.
A paisagem é muito bonita e os céus são
cortados por muitos rastros de aviões, pois ali é uma rota aérea muito usada.
Nos telhados das casas centenárias, antenas e parabólicas nos lembram de que
estão conectadas com o mundo globalizado.
Havia muitas guerras entre as cidades,
como por exemplo, as que ocorreram entre Florença e Siena. Os burgos medievais
têm controles de segurança, com muros fortificados e fossos. São semelhantes,
nesse quesito de segurança, aos condomínios existentes nas cidades brasileiras,
eletronicamente vigiados e procuram proteger os moradores dos perigos do
ambiente externo.
A Itália é densamente habitada, com 192
habitantes por quilometro quadrado (A Itália tem metade do tamanho de Minas
Gerais e uma população quase 4 vezes maior). O Brasil é oito vezes menos denso,
com 23hab/km2. No passado, uma das maneiras de reduzir essa densidade foi por
meio das emigrações de italianos para o Brasil, os EUA e outras partes. Outro
caminho era por meio das guerras ou das pestes como a que afetou Florença nos
anos 1350. Muitos países europeus se apropriaram de recursos das colônias para
se sustentarem. Hoje, os descendentes dos povos colonizados retornam para os
países que os colonizaram. Se os empregos não vão para onde estão as pessoas,
elas vão para onde se encontram os empregos, já observou um conhecido
demógrafo.”
Fotos de Maurício Andrés
1)
Alberto
e Teresa observam a paisagem da Toscana, semelhante à dos Campos das Vertentes
em Minas Gerais.
2)
Catedral
de Siena
3)
Interior
da Catedral
4)
Praça
principal de Siena
5)
Vico
d’Elsa – casa de Teresa e Alberto, no térreo, com figueira no quintal
6)
Monteriggione
7)
San
Gimignano
8)
Vico
D’Elsa – vista da Toscana
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domingo, 22 de setembro de 2013
DUAS ARTISTAS UNIDAS NO TEMPO
Escrevo
da varanda de minha casa escutando os passarinhos que chegam saudando esta
manhã de sol. Ao meu lado, dois livros de arte descrevem a presença das
mulheres nos movimentos que surgiram nos séculos XX e XXI.
Escutar
a voz destas mulheres é importante para esclarecer a história e clarificar
caminhos semelhantes ou contraditórios.
Tomei
como exemplo duas artistas que viveram em épocas distantes mas se unem no
espaço e tempo com formas e pensamentos semelhantes. São elas: Sonia Delaunay e
Beatriz Milhazes.
“Não
sei como definir minha pintura, o que não acho ruim, porque desconfio de
classificações e categorizações. Como e por que definir algo que vem de dentro
de nós?” Estas palavras de Sonia Delaunay esclarecem muitas vezes o que nós
artistas sentimos quando realizamos um quadro, um desenho, uma escultura. O que
parte do sentimento, da emoção, da alma, dificilmente pode ser definido. Sonia
Delaunay participou da vanguarda russa, casou-se com Roberto Delaunay,
radicou-se em Paris durante a revolução russa. Mas em seus quadros abstratos,
ligados ao construtivismo, as curvas sinuosas sugerem o movimento das danças da
Ucrânia, sua terra natal.
“Lembro-me
dos casamentos dos camponeses na minha terra, em que os vestidos vermelhos e
verdes, enfeitados com muitos laços, balançavam durante a dança.”
Agora
voltemos à outra exposição que está, no momento ocupando um espaço no Sesc Paladium.
Beatriz Milhazes é uma referência do movimento denominado “Geração 80”, uma
artista que se firmou no plano internacional como uma representante brasileira:
o Brasil do carnaval, dos desfiles das escolas de samba, do movimento das
danças.
Sonia
Delaunay se refere às danças ucranianas, Beatriz Milhazes registra as danças
carnavalescas. Em suas telas e serigrafias sentimos a movimentação das cores em
ritmo contido pelas origens construtivas da artista. O construtivismo
brasileiro está contido como base estrutural de suas serigrafias, expostos em
Belo Horizonte. Sonia Delaunay, ao mesmo tempo, ocupa uma sala no CCBB da Praça
da Liberdade, integrando a exposição “Elles, mulheres artistas na coleção do
Centro Pompidou”. Os depoimentos de ambas são testemunhos de que duas terras
tão distantes podem se tornar próximas através das manifestações artísticas.
*Fotos
de arquivo
VISITE
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sexta-feira, 30 de agosto de 2013
VENEZA, CAMINHOS DE ÁGUA
Minha neta, Alice Andrés, me enviou o
texto abaixo sobre Veneza, onde residiu por 6 meses:
“Ruas feitas de águas encantadas, de um
tom de verde que não se vê em nenhuma caixa de lápis de cor. Prédios recheados
de história e sonhos. Ar cheio de mistério e de promessas. Luz inigualável.
Pessoas atemporais. Veneza é uma cidade sem igual.
À primeira vista, Veneza parece um grande formigueiro de turistas - gente de todo o mundo e de todos os tempos, que busca em dois ou três dias desvendá-la. Correm de um lado para o outro, percorrem o circuito turístico Praça de São Marcos - Rialto - Biennale - Murano, tomam um Bellini no Harry's Bar ou um Spritz no Campo Santa Margherita, ouvem o gondoleiro de blusa listrada cantar, fotografam toda a superfície da cidade. Tudo é lindo, e vale a pena.
Mas é quando o olhar se acostuma ao cenário, que Veneza se revela e nos faz ver que somos muitos, mas somos um. Perdemo-nos por suas ruas - as de água e as de pedra - e, de madrugada, no inverno, quando a cidade dorme e está esvaziada de turistas, vemos que essa é uma cena que se repete através dos tempos, e que confirma a nossa coerência e humanidade.
É nesse momento que se consegue vislumbrar e compreender a história, os mistérios, os encantos, as promessas e a luz dessa cidade, e também nossa história, mistérios, encantos, promessas e luz. Cada viagem de qualquer ocidental à China remete às aventuras de Marco Polo na corte de Kublai Khan. Cada moeda trocada hoje remete ao sistema capitalista influenciado em grande medida por essa cidade, que foi uma das principais capitais comerciais do mundo. É nela que, olhando para a Praça de São Marco, poderíamos também proferir a frase de Napoleão Bonaparte, que a chamou de sala de estar da Europa. É ali que mesmo os mais céticos se curvam diante da magia da presença dos restos mortais de São Marcos e das pedras onde caminharam papas e pecadores. É onde se coloca e se tira a máscara. É quando se sente que, com toda aquela beleza e inspiração, fica claro porque VIvaldi pôde compor o que compôs. É quando se percebe a presença de promessas de amor repetidas através dos tempos, e a busca incessante pela perpetuação e materialização dos sonhos. É ali que se vê a mesma dependência - e, mais importante que isso, reverência - que lugares tão distantes como Veneza e Amazônia podem compartilhar por seus caminhos de água.
Somos muitos e somos um, e Veneza materializa isso.
À primeira vista, Veneza parece um grande formigueiro de turistas - gente de todo o mundo e de todos os tempos, que busca em dois ou três dias desvendá-la. Correm de um lado para o outro, percorrem o circuito turístico Praça de São Marcos - Rialto - Biennale - Murano, tomam um Bellini no Harry's Bar ou um Spritz no Campo Santa Margherita, ouvem o gondoleiro de blusa listrada cantar, fotografam toda a superfície da cidade. Tudo é lindo, e vale a pena.
Mas é quando o olhar se acostuma ao cenário, que Veneza se revela e nos faz ver que somos muitos, mas somos um. Perdemo-nos por suas ruas - as de água e as de pedra - e, de madrugada, no inverno, quando a cidade dorme e está esvaziada de turistas, vemos que essa é uma cena que se repete através dos tempos, e que confirma a nossa coerência e humanidade.
É nesse momento que se consegue vislumbrar e compreender a história, os mistérios, os encantos, as promessas e a luz dessa cidade, e também nossa história, mistérios, encantos, promessas e luz. Cada viagem de qualquer ocidental à China remete às aventuras de Marco Polo na corte de Kublai Khan. Cada moeda trocada hoje remete ao sistema capitalista influenciado em grande medida por essa cidade, que foi uma das principais capitais comerciais do mundo. É nela que, olhando para a Praça de São Marco, poderíamos também proferir a frase de Napoleão Bonaparte, que a chamou de sala de estar da Europa. É ali que mesmo os mais céticos se curvam diante da magia da presença dos restos mortais de São Marcos e das pedras onde caminharam papas e pecadores. É onde se coloca e se tira a máscara. É quando se sente que, com toda aquela beleza e inspiração, fica claro porque VIvaldi pôde compor o que compôs. É quando se percebe a presença de promessas de amor repetidas através dos tempos, e a busca incessante pela perpetuação e materialização dos sonhos. É ali que se vê a mesma dependência - e, mais importante que isso, reverência - que lugares tão distantes como Veneza e Amazônia podem compartilhar por seus caminhos de água.
Somos muitos e somos um, e Veneza materializa isso.
*Fotos de Alice Andrés
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sexta-feira, 9 de agosto de 2013
CASAMENTO DE TERESA E ALBERTO
Sentada num banco reservado à avó, fico esperando a
entrada da noiva. Teresa é a minha neta mais velha,está se casando agora em
Entre Rios de Minas, repetindo a cena de seus pais em 1979 e de seu irmão
Roberto à poucos anos atrás. Nada de marcha nupcial e cortejo pelo corredor da
Igreja. A nave central é a própria paisagem que se descortina à nossa frente.
Tudo fica dourado quando o poente se aproxima em seu silêncio protetor. E hoje,
diante de um pequeno altar improvisado, um casamento está sendo realizado. A
noiva vem subindo o morro, toda de branco, com um buquê de flores nas mãos, de
braço com seu noivo, Alberto.
A simplicidade da cerimônia é emocionante, e é com
lágrimas nos olhos que escutamos a flauta do Artur tocando a música “Bachianas”
de Villa Lobos.
Teresa e Alberto casaram-se no civil em abril,
em Toscana, na Itália, e hoje estão celebrando a benção religiosa da Igreja
Católica, na fazenda Luiziania, em Entre Rios.
A história de Teresa merece ser contada: Teresa
deixou o Brasil há exatamente um ano, levando uma mochila às costas. Seguia para a Itália como
pesquisadora do nutricionismo italiano nas pequenas fazendas daquele país.
Acompanhamos seu blog, cheio de peripécias e situações imprevistas. E foi numa
dessas situações não programadas que ela conheceu Alberto, com quem está se
casando. Uma festa em Siena, dentro de uma escola antroposófica marcou para
sempre o destino deste jovem casal.
Alberto veio ao Brasil por ocasião do Natal e
combinaram o casamento na Itália para abril.
Acompanhei todos os passos dessa história de amor
programada pela vida.
Agora acompanho a festa na roça, igual ao meu quadro
“Casamento na Roça” pintado na década de 1950. Este quadro já está ficando
famoso, pois participou do 3° Festival de Inverno de Entre Rios, já foi
impresso em camisetas, cartões e “banners”.
Casamento na roça é isto que está acontecendo no
momento: bandeiras brancas amarradas no poste de bambu, fogueira junina, pratos
típicos feitos em casa, 2 barris de chope, sucos variados.
Enquanto a fogueira crepita em frente à casa,os seresteiros
tocam música dançante.
Aqui se reuniram filhos, netos,bisnetos,sobrinhos,irmãos
e a sociedade de Entre Rios, muito ligada à esta filha da terra,que irá morar
em outra terra, falando outra língua.
Tudo aconteceu tão rápido, que a gente custa a crer,
parece um conto de fadas!...
Teresa se casou num castelo em Toscana (a prefeitura
é um castelo) e agora se casa no religioso nesta tarde luminosa de sábado, abençoada
pelos anjos protetores que reconduziram seu destino.
Aos noivos, todo o meu carinho e os votos de
felicidades.
Na década de 50, eu costumava escrever versos. Um
deles está transcrito abaixo:
NOIVA
DA MADRUGADA
A
noiva toda de branco
Vem
subindo aquela escada
Vem
subindo de mansinho
Toda
de branco enfeitada
Os
sinos tocam
Quem
sobe?
É
a noiva da madrugada
É
a manhã despertando
Disfarçada
em noiva branca.
*Fotos de Maurício Andrés
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segunda-feira, 22 de julho de 2013
DUAS CASAS, DOIS ESCULTORES
Quando a família se mudou
para o castelinho, papai alugou a casa de baixo onde eu nasci, para a sogra de
um jovem escultor. Enquanto ela usava a máquina de costura na parte de cima da
casa, o escultor modelava a argila em seu atelier situado no porão. Da minha
janela eu podia ver os moldes de uma escultura figurativa saindo das mãos de um
grande artista – o jovem escultor era Franz Weissmann, que mais tarde se tornou
um dos maiores nomes da escultura brasileira. Naquela época, década de 40, ele
ainda não era famoso, mas sua presença ali na casa onde eu sempre vivera, me
mostrava um caminho novo para a arte – o caminho do tridimensional. Nunca fui
aluna de Weissmann, mas por uma coincidência , ele foi inquilino de meu pai e
meu vizinho.
Franz Weissmann foi professor
da Escola Guignard e deixou inúmeros seguidores. Depois foi morar no Rio,
andava a pé no calçadão, fez parte de movimentos concretistas, ganhou prêmio de
viagem e chegou a conhecer a Índia.
Minha viagens à Índia eram o
ponto de referência para nossas conversas. Ninguém consegue esquecer uma viagem
à Índia, me dizia ele.
Lembrava-me de Varanasi e do
impacto que o forno crematório lhe causou.
Weissmann, com suas
esculturas, atravessou as fronteiras do Brasil.
Nas minhas memórias da casa
de papai o Franz deixou sua vibração de um escultor que nunca será esquecido.
Seguindo os passos da
escultura em Minas, lembro-me de outro artista, Amílcar de Castro, que também
morou numa casa onde eu freqüentava quando era criança. A casa do meu avô na
confluência da rua Cláudio Manoel com Piauí.
A casa foi vendida quando meu
avô se transferiu para o Rio na década de 20. Lembro-me daquela construção
antiga, com paisagem pintada na varanda, um jardim construído geometricamente.
Ali, naquela casa de corredores compridos, quartos estreitos à moda antiga, foi
criado o meu colega e amigo Amílcar.
Ele morou naquela casa e ali
conheceu Dorcília, que morava em frente e que mais tarde se tornou sua esposa.
O pai de Amílcar era Juiz de Direito no interior de Minas e Amílcar também
estudou e se formou em
direito. Conheci-o na Escola de Belas Artes na década de 40,
quando Guignard dava aulas no parque. Naquela época, Amílcar já demonstrava
inclinação para o desenho e a escultura. Aprendemos com Guignard a usar a linha
contínua, como forma de busca do essencial no desenho, sem enfeites. Escolhi
como base o desenho de linha contínua, que me permitia eliminar o supérfluo. As
lições do mestre Guignard eram uma bússola no campo da simplificação da forma. A
busca da Essência era necessária na arte e na vida.
Na arte era o caminho para o
concretismo. Dentro do concretismo, Amilcar pesquisou o tridimensional,
participou do movimento concretista no Rio de Janeiro, foi paginador do Jornal
do Brasil, ganhou o prêmio Guggenheim, morou 3 anos nos Estados Unidos.
Encontrei-o em 1973 na Escola de Belas Artes Guignard, onde era professor de
expressão tridimensional, tendo marcado sua presença como professor e
continuador da obra de Guignard.
O incentivo dado aos seus
alunos, ele,generosamente o distribuía também aos colegas. Transcrevo as
palavras de Amílcar, que me ajudaram a prosseguir no meu caminho de cores,
antes de iniciar o tridimensional.
“O desenho é fundamento, uma
maneira de pensar. E pensar, em arte, é desenhar, porque sem desenho não há
nada. Existem outros escultores que fazem esculturas sem desenhar. Eu não sei
fazer nada sem desenhar.”
As minhas esculturas,
realizadas a partir de 2004, aconteceram após a morte de Amílcar. Porém elas já
estavam contidas no desenho, geométrico, realizado na década de 50.
Transcrevo aqui a dedicatória
que Amílcar escreveu por ocasião do lançamento do seu livro “Circuito Atelier”
(Editora C/ARTE, BH, MG)
“À minha queridíssima Maria
Helena Andrés, pintora magnífica, com um abraço do eterno admirador,
Amílcar de Castro
30/10/99”
*Fotos da internet
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sábado, 20 de julho de 2013
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