Artista plástica, ex-aluna de Guignard. Maria Helena Andrés tem um currículo extenso como artista, escritora e educadora, com mais de 60 anos de produção e 7 livros publicados. Neste blog, colocará seus relatos de viagens, suas reflexões e vivências cotidianas.
segunda-feira, 28 de dezembro de 2015
MEU CAMINHO NA BUSCA DA INTEGRAÇÃO
Na
década de 50 comecei a escrever o livro “Vivência e Arte” mais tarde editado
pela Agir, um pequeno ensaio sobre arte, arte moderna e arte sacra.
A
linguagem escrita seguia paralela à linguagem pictórica, mente e emoção
buscando uma expressão em comum.
Em
1970 uma viagem em torno do mundo fechou para mim o primeiro circulo de
investigações. Um grupo de assistentes sociais dirigia-se à Expô 70 no Japão e
eu me inscrevi naquele roteiro turístico por facilidade de preço.
Aquela
viagem foi para mim o fechamento de uma de uma grande mandala onde o mundo
inteiro estava sintetizado, e também a abertura para novas buscas na arte e
reflexões.
A
série de mandalas, de minha pintura teve inicio depois desta viagem, onde o
Japão seria para mim o núcleo de integração Oriente-Ocidente. Mas nesta mesma
viagem, fui tocada pela mensagem da Índia. “Viemos de uma essência e a ela
vamos retornar, todos nós homens, animais e plantas”.
Já
não era apenas a integração do planeta, mas o retorno a Essência de onde viemos
e para onde vamos. A Índia, celeiro da espiritualidade abria-se para mim como
cântico de luz, um lugar onde eu me sentia em paz como se estivesse em meu país
de origem.
A
síntese Oriente – Ocidente e a integração planetária estão dentro de nós
mesmos, no equilíbrio do lado direito e esquerdo de nosso cérebro, razão e
intuição.
A
harmonização destes dois aspectos de nossa individualidade torna-se cada vez
mais uma necessidade no campo da consciência.
E,
quando arte e vida se encontram, poderemos dizer como Isadora Ducan quando foi
entrevistada por um jornalista “Eu danço a minha vida”.
*Fotos
de arquivo
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quinta-feira, 17 de dezembro de 2015
UMA FILMAGEM SOBRE AS TAPEÇARIAS DE NOSSA SENHORA DE COPACABANA
Estamos na Igreja Nossa Senhora de Copacabana no Rio
de Janeiro. Na década de 70 fui convidada a realizar os projetos de 3
tapeçarias para essa igreja, duas para a nave principal e uma para a capela do Santíssimo.
A proposta era realizar a monumentalidade de um mural. As duas da nave
principal medem 5 x 2,50 metros e a da capela preenche um espaço horizontal de
12 x 2,50 metros.
Aqui na capela do Santíssimo são realizados
casamentos. Viemos, meu filho Maurício e eu, com o objetivo de fazer uma
filmagem sobre as tapeçarias para um documentário sobre minha trajetória na
arte, a ser feito pela Universidade Federal de Minas Gerais.
Enquanto a câmera
desliza sobre a grande tapeçaria horizontal
vou recordando o que motivou a criação desse painel colorido, destinado ao
culto católico. Para esse tema eu teria que me concentrar um pouco na história.
Revejo nele a chegada dos navegantes portugueses na cidade do Rio de Janeiro.
Ali estão os mastros e velas que transportaram o cristianismo para esta terra.
Enquanto o fotógrafo registra a obra, eu procuro recolher as minhas lembranças.
Lembro-me de que eu procurei colocar uma mandala no centro do painel,
significando a Eucaristia, já que esta
capela está destinada ao Santíssimo Sacramento. Ao lado, Nossa Senhora com o
menino Jesus, abençoa a cidade do Rio de Janeiro, especialmente a praia de Copacabana.
Em seguida nos dirigimos à nave central onde existem
duas tapeçarias, cujo tema busca configurar um dos aspectos mais transcendentes
do cristianismo: a comunhão dos santos e o caminho de volta ao Pai. Lembro-me
de ter me concentrado no tema buscando o recolhimento necessário para
transmitir o caminho que nos leva das sombras para a luz.
Buscar espaços superiores cheios de luz é um dos caminhos
de transcendência. Nesse primeiro painel, vertical, sombra e luz estão
registrados. Há um desejo de alcançar o sol que a todos ilumina. Multidões
buscam a realização da unidade. No painel à direita há uma celebração da
chegada à casa do Pai, vencendo todos os obstáculos. Esta foi minha concepção ao projetar os painéis.
Transmutar as energias sombrias que nos prendem à terra e chegar à plenitude do
encontro com Deus.
Volto à realidade do presente. Passa uma senhora com
um vaso de flores. Ela se aproxima e pergunta se precisamos de alguma coisa.
“Estou aqui dando um depoimento sobre os painéis,
sou a autora deles. Foram realizados aqui no Rio de Janeiro por Maria Ângela
Magalhães na década de 70. Ela realizou uma série de tapetes a partir de meus
desenhos feitos em pastel sobre papel veludo. ”
“Que bom”, respondeu ela, “assim eu posso explicar
para as pessoas o significado das tapeçarias, o que você idealizou quando
projetou o seu trabalho.”
*Fotos de Maurício Andrés
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segunda-feira, 14 de dezembro de 2015
terça-feira, 8 de dezembro de 2015
PERU -MACHU PICCHU
Este planeta tão pequeno, despertando debaixo do
mesmo sol, faz produzir na terra a mesma vegetação. Olhando pela janela do trem
que nos leva a Machu Picchu, vejo a cidade em baixo, cercada de montanhas, e a
vegetação rasteira, nativa, produzindo as mesmas flores amarelas do Retiro das
Pedras, lírios, palmas e até a famosa cicuta, erva daninha tão perigosa desde
os tempos de Sócrates.
Ao longo da estrada, as casas de adobe servem de
moradia para o povo do campo e pode-se ver o barro amassado em cubos e
recoberto de grama para secar.
Montanhas surgem, cobertas de neve, no meio do verde
e do céu azul, enquanto o trem vai seguindo num vai e vem, descendo a montanha.
Machu Picchu e Anapicchu são duas pedreiras,
semelhantes ao nosso Pão de Açúcar. A maior delas, Machu Picchu, simbolizava “o
mais velho gerando sabedoria” e a menor, Anapicchu, “o mais jovem, doando
energia”.
URUBAMBA
Vale sagrado dos Incas, é um rio que desemboca no
Amazonas, com patamares recobertos com húmus, vindos de outros planos.
O rio de águas barrentas segue os acidentes do
caminho. O trem acompanha o rio entre a monumentalidade das montanhas. Pequenos
veios de água, riachos, pedras, cactos, pitas, acácias, formam o tapete natural
de flores que acompanham o caminho do rio. Há musgos diferentes, nunca vistos,
descendo as montanhas, eucaliptos plantados pelo homem, torres elétricas
levando o progresso.
Ao redor das cidades existem aldeias autossuficientes
que plantam batata, cevada, lentilha, mostarda, milho etc. As casas de adobe se
distribuem pelas áreas de terra recortadas geometricamente, como as fazendas
europeias. Aqui o dinheiro não é necessário para as primeiras necessidades,
pois vivem de trocas.
OLANTAITAMBO
Lugar sagrado dos Incas, foi construído com grande
sentido estratégico, como uma fortificação. Hoje é um dos lugares mais
conhecidos pelos turistas. Dois teares enormes e os tecelões trabalhando, pai,
mãe e filhos no mesmo ofício. Fazem cenas típicas do Peru.
TEMPLO DO SOL
Os incas tinham uma visão cósmica, adoravam e
rendiam culto ao sol, à lua e às estrelas, ao arco íris, trovão e relâmpago.
Chamavam a terra de mãe – Pachamamma - e
prestavam culto à terra, à água e aos animais. Havia em cada mês do ano
homenagens a um diferente deus. O calendário tinha 12 meses e 365 dias. Em
julho havia uma grande festa especial em homenagem ao deus Sol.
OBELISCO TELLO
Pertence aos períodos mais antigos de Chavin, 1000
a.C., e representa uma divindade complexa, conectada com a terra, a água e
todos os elementos vivos da natureza. Em seu corpo existem homens, aves,
serpentes, felinos etc; e o monstro divino deles se alimenta.
Esse obelisco tem semelhanças com os desenhos
encontrados nos vasos chineses.
DANÇAS PERUANAS
Conhecemos no Hotel Bolívar, em Lima, um empresário de um grupo folclórico de danças do Peru.
Segundo ele, existem 3000 danças folclóricas diferentes no Peru. As roupas
lembram o Nepal e se assemelham às danças dos cossacos russos.
*Ilustrações de Maria Helena Andrés
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terça-feira, 1 de dezembro de 2015
PERU - CUSCO
A cordilheira dos Andes, assim como os Himalaias, é
considerada montanha sagrada pelos antigos habitantes da Terra. Buscando uma
comparação entre os Andes e os Himalaias, entre o Ocidente e o Oriente,
interessei-me em conhecer o Peru, onde está localizado Machu Picchu. Estive no
Peru em 1983, ocasião em que estava escrevendo o livro “Oriente-Ocidente,
integração de Culturas.” Das anotações feitas no local realizei várias ilustrações
para os textos que transcrevo abaixo:
“Existe um elo que une povos percorrendo gerações e
se fazendo manifestar no tempo e no espaço. Estamos em Cusco, no alto dos
Andes. As montanhas recortadas e sujeitas a movimentos sísmicos nos trazem
lembranças do passado. A história é povoada de lutas e conquistas, sempre o
mais forte sufocando o mais fraco. O domínio dos Incas se estendeu pela orla
costeira de Norte a Sul, num espaço de terra que dava abertura para os quatro
pontos cardeais.
Parte da Amazônia pertence ao Peru e até hoje, nas
festas populares, os índios dançam com máscaras e cocares coloridos. A ligação
da Amazônia com o Peru vem de longa data, alguns historiadores afirmam que os povos vieram das selvas para as
regiões mais altas, outros acreditam que a Amazônia já foi o Paraíso terrestre.
Se quisermos esboçar um estudo comparativo entre as
cidades mineiras e Cusco, podemos ver no primeiro instante a semelhança topográfica, devido à localização
no alto das montanhas.
Cusco está situada aos pés de uma montanha, como as
cidades históricas de Minas Gerais. Em Minas, as cidades acompanharam a busca
de riquezas, o garimpo abrindo novos caminhos pela terra virgem. Em Cusco, os
conquistadores encontraram uma civilização já organizada, com palácios,
fortalezas e templos, uma cidade em forma de pantera, estruturada na pedra. As construções tipicamente espanholas
ergueram-se sobre as ruínas dos templos e palácios, proporcionando uma fusão de
culturas desde os primeiros tempos da colonização.
Estamos em Cusco justamente no dia em que o papa João
Paulo II está em visita ao Peru.
Com a chegada do Papa, estamos vendo danças
folclóricas nas ruas, gente dos arredores, a cidade e o campo reunidos – parece
um carnaval. Mascarados dançando na praça das armas e a multidão reunida.
Mulheres pequenas, vestindo mil saias umas sobre as outras, chapéu de homem e
sapatos também masculinos.
Uma mistura de Rajastão na Índia, com Nepal e Tibet,
um frio nepalense, 3.500 metros acima do
nível do mar.
Tenho andado devagar, para não cansar. Amanhã iremos
a Machu Picchu, hoje à tarde um tour pelos arredores”. (Textos extraídos de
anotações de viagem, 1983)
*Ilustrações de Maria Helena Andrés
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terça-feira, 24 de novembro de 2015
PRIMEIRAS EXPERIÊNCIAS NO ORIENTE
Incentivada por meu marido, que sempre me deu apoio
nas minhas iniciativas, embarquei em 1970 rumo ao Oriente. Visitei o Japão, a
China, a Tailândia e a Índia, integrando um grupo turístico que se dirigia à
Expo 70.
Chegando à Índia, fui convidada pelo então
embaixador do Brasil, Wladimir Murtinho, para permanecer em Nova Delhi. A
esposa do embaixador fazia meditação e era ligada à filosofia dos yogues.
“Quando voltar à Índia, não deixe de visitar
Pondicherry, na Índia Francesa”, me disse ela.
Ali, com apoio da UNESCO, existe uma comunidade onde
se desenvolvem as ideias de Sri Aurobindo, um dos maiores mestres indianos. O
Yoga Integral de Sri Aurobindo prepara o homem do futuro. É uma experiência
extraordinária de educação pela arte, visando o despertar de uma nova
consciência.
A Índia deixou de ser um ponto a mais no meu roteiro
turístico. Alguma coisa me atraía àquele país como se fosse um reencontro com
um passado longínquo. Visitei um templo em Delhi e um monge percebeu o meu
interesse, presenteando-me com uma pilha de livros de Ramakrishna e
Vivekananda, que me desvendaram pela primeira vez o mistério dos Yogues. Entre
eles estava um pequeno exemplar do Bhagavad Gita, livro sagrado da Índia.
Voltando ao Brasil, ingressei no curso de yoga do
professor George Kritikos e frequentei seu grupo de meditação. Mergulhei na
leitura dos mais variados livros de filosofia oriental, do Zen-budismo aos
mestres de Vedanta, da Teosofia a Krishnamurti. Tomei consciência de que realmente
pertencemos a um Todo, que viemos de uma Essência e a Ela vamos retornar.
Em 1974, durante uma retrospectiva de meus quadros
no Museu de Arte Moderna de Belo Horizonte, pude fazer uma leitura cronológica
do caminho percorrido pela minha pintura, desde os primeiros quadros
figurativos até a integração de todas as fases nas mandalas. Inconscientemente
eu já revelara em meus quadros a necessidade de integração e de síntese. Nessa
época percebi por insight o roteiro de
“Os Caminhos da Arte”, livro publicado pela editora Vozes em 1977. O resumo mostra
o caminho de volta à Consciência Cósmica, através das diversas formas de expressão artística,
em termos planetários.
A partir de 1977 comecei periodicamente a visitar a
Índia, procurando desenvolver pesquisas no campo da arte, da educação e da
história, com base na filosofia oriental. “Deixa ao senhor o cuidado de ti”.
Essa frase, escutada no silêncio de uma madrugada, foi de certo modo a minha
bússola durante as diversas viagens. Procurei seguir a intuição sem traçar
planos. Visitei escolas, comunidades, anotando, em forma de diário, as minhas impressões
e experiências. Meu Caminho da Índia é uma reconquista da sabedoria que
perdemos pelo excesso de materialismo. Aprendi escutando a voz do povo,
participando de congressos, pronunciando palestras, realizando estudos
comparativos entre o Brasil e a Índia e observando os diferentes costumes das
diversas regiões por onde passei.
Os ensinamentos orientais não me acenavam como uma
nova religião, mas significavam a redescoberta de conhecimentos que já existiam
dentro de mim. Esses ensinamentos não são privilégio de um só país ou de uma só
raça. Eles existem dentro de todo ser humano e estão guardados no silêncio de
nossa consciência. O meu objetivo era
redescobrí-los através da minha própria experiência de vida.
O encontro das diversas mensagens nos campos da
arte, da filosofia, da religião e da ciência soava nos
meus ouvidos como uma única voz. O oriental busca, antes de tudo, através da
meditação, experimentar dentro de si mesmo sua Realidade Interna, que
ultrapassa os conceitos da mente. Ao percorrer várias comunidades
espiritualistas, desde os monges budistas no alto dos Himalaias até os mais
variados ashrams da Índia, sentia a mesma verdade fluindo de diversas formas.
Existem inúmeros mestres e caminhos, mas a minha abordagem focaliza apenas os
que tive a oportunidade de conhecer de perto ou que me tocaram através de seus
ensinamentos.
*Fotos da internet
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terça-feira, 17 de novembro de 2015
INÍCIO DO INTERESSE PELO ORIENTE
Meu interesse pelo Oriente nasceu na infância, quando escutava
deslumbrada as histórias de Mil e uma noites, Simbad, o marujo e as viagens de
Marco Polo. Da Índia me vieram, mais tarde, na adolescência, os versos de Rabindranath
Tagore, o grande poeta e místico indiano. A poesia de Tagore me despertou para
a filosofia daquele país situado no outro lado do mundo.
Em 1961, recebi um convite do Consulado Americano em Belo Horizonte,
como artista e professora de arte para visitar os Estados Unidos num programa
cultural que incluía visitas a escolas de artes, museus, galerias e contatos
com artistas de vanguarda da época.
Naquela ocasião, ao visitar a costa oeste americana, Seattle, San
Francisco e Los Angeles, tomei contato direto com a influencia oriental -
chinesa, japonesa, indiana, na arte ocidental. Em San Francisco, escrevi no meu diário
em 13 fev 1961: "Percorremos a cidade. Fomos a
todos os recantos pitorescos, percorremos colinas, estacionamos em lugares altos para ver a vista. A paisagem é deslumbrante, lembra muito o Rio de Janeiro, tive saudades do Brasil quando vi os navios chegando. Saudades da minha terra e das belezas que também possuímos. Os navios não vem da
Europa, mas da Ásia. São navios japoneses, Filipinos, Chineses, Indianos. Vêm de longe, trazendo coisas diferentes
que serão misturadas à cultura ocidental para desta mistura fazer uma só civilização."
Visitando um jardim japonês: "Tudo ali é inspirado no Japão. As
flores, os pequenos lagos, os quiosques e templos. No meio da vegetação,
imagens de Buda e outros deuses, tudo disposto com
carinho e arte."
Em visita à China town de San Francisco em 19 de fevereiro:
"O oriente me fascina. Como tudo é estranho, misterioso, os menores
objetos têm um cunho de beleza e arte!"
Observando a paisagem da California: “A terra da Califórnia é a mesma do
Brasil, mais urbanizada. As árvores são verdinhas, vejo eucaliptos, coqueiros.
Há cerejeiras importadas do Japão, colorindo a paisagem."
No museu de Seattle: "O museu fica situado no centro de um parque, no estilo do Metropolitan de New York. É maravilhosa a coleção que têm de arte oriental. Budas e deuses chineses e indus, trabalhados em ouro, bronze, prata. Arranjam com cuidado e arte as coleções antigas, procurando não acumular para dar melhor efeito. Logo de entrada 3 deuses orientais, em ouro, quase do tamanho natural. Depois as galerias, vitrines, com objetos de arte, vasos, medalhões, mitos orientais.
No museu de Seattle: "O museu fica situado no centro de um parque, no estilo do Metropolitan de New York. É maravilhosa a coleção que têm de arte oriental. Budas e deuses chineses e indus, trabalhados em ouro, bronze, prata. Arranjam com cuidado e arte as coleções antigas, procurando não acumular para dar melhor efeito. Logo de entrada 3 deuses orientais, em ouro, quase do tamanho natural. Depois as galerias, vitrines, com objetos de arte, vasos, medalhões, mitos orientais.
San
Francisco é chamada a Paris da América,
recebe muito da cultura européia, misturada cem o
espírito oriental.
Visitando a China town de Nova York : "China
town é um pedaço do Oriente encravado na América. As construções são chinesas,
as caras são chinesas, as lanternas são chinesas. À noite, com tudo
iluminado lembra um conto de mil e uma noites. As lojas tem coisas
lindas, objetos de arte, marfim, jade,
bronze."
Observei
que os artistas do leste e oeste americano têm um estilo completamente
diferente. "Notei isto nas minhas viagens. Aqui em N. York predomina a
escola de Pollock, Hoffman, De Kooning, Stamus e Brooks. São violentos,
expressivos, completamente informais. James Brooks pertence à categoria dos
informais, suas fases são firmes e conscientes, e há uma certa unidade entre
elas. Todo o itinerário de sua pintura está aí nos quadros que me mostra.
"
Meus trabalhos
informais foram influenciados pela
caligrafia japonesa, que eu conheci pela primeira vez em 1961.
*Fotos da internet
e de arquivo
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segunda-feira, 9 de novembro de 2015
UDAIPUR
A chegada em Udaipur é um deslumbramento. Nosso
hotel fica à beira de um lago, onde as lavadeiras, envolvidas em panos
coloridos, cantam batendo as roupas. Neste lago a cidade é refletida com suas
torres, templos e palácios.
A influência
árabe se faz sentir na beleza das colunas e arcos, nos nichos, nos arabescos,
um toque de mil e uma noites no coração da Índia.
Circundada por montanhas de pedra e plantações que
se perdem de vista, Udaipur oferece ao visitante uma visão do passado que se
projeta no presente, cheio de vida. Mulheres carregando vasos dourados sobem as
ladeiras envolvidas em sáris coloridos, desenhos de elefantes ilustram as
paredes brancas.
À noite, contemplando o reflexo das luzes no lago em
frente, entro em estado de meditação.
Estamos vivendo a época do turismo. Mulheres,
crianças, homens, olham ansiosos as pequenas miniaturas contando a história dos
grandes de antigamente. O quarto de dormir do marajá é decorado com espelhos,
mármores, marfim – como se fosse uma caixa de joias. Este palácio, que levou décadas
para ser construído, hoje é objeto de curiosidade dos turistas, que consomem
tudo na maior rapidez.
Numa grande
sala decorada com tapete vermelho, jovens artistas pintam, sobre seda esticada
na prancheta, palheta e tintas no chão, miniaturas da história dos antigos reis.
Pintam com tinta retirada das pedras das montanhas – o verde vem de uma pedra
chamada “malakite”, o azul vem da “turquise”, o vermelho de diversas pedras. As montanhas ARAVALI são as mais velhas e mais
ricas do mundo. O método para se fazer tintas é muito antigo: triturar as
pedras num pequeno recipiente e em seguida dissolver o pó com água e goma
arábica. A delicadeza das pinturas mostra o refinamento da sensibilidade desses
artistas.
*Fotos de Maurício Andrés e da internet
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terça-feira, 3 de novembro de 2015
MOUNT ABU II
Mr. Thakur toma conta da casa de campo do marajá de
Jodhpur há 20 anos, neste espaço maravilhoso, lugar de repouso e meditação. A
casa de hóspedes foi construída sobre uma montanha de pedra. O velhinho sentado
em minha frente suspende os bigodes para tomar chá. Conhece yoga, faz meditação
e quer nos levar ao templo para conhecermos dois swamis com grande conhecimento
de sânscrito e escrituras antigas. As coisas mais preciosas quase sempre estão
discretamente veladas ao público, à curiosidade turística das lentes
fotográficas. Repousam em silêncio, e a energia vem deste silêncio.
Subimos a rua do hotel, onde as casas são
construídas em cima das pedras, até um recanto rodeado de árvores e flores. Um
swami vestido de alaranjado regava o jardim. As montanhas de pedra sempre têm
uma energia própria, e esse templo, encravado na pedreira, de uma singeleza
comovente, nos ofereceu um momento de paz e serenidade. O telhado do templo tem
a forma de Shiva Lingam, união da energia masculina e feminina. Os hindus
reverenciam esta polaridade que existe na natureza e no universo. Em várias
partes da Índia, Shiva é representado em esculturas de bronze ou de pedra.
“Estes símbolos têm força e nos conduzem ao nosso
próprio centro. O culto a Shiva é o mais antigo da Índia, anterior à invasão
ariana. Ele nos faz reconhecer nossas origens, sem a especulação intelectual. A
cultura antiga da Índia, em sua autenticidade e singeleza, se faz presente neste
templo escondido entre árvores e pedras.
“A força de Shiva Lingam traz benefícios para quem passa
na estrada”, nos diz o swami.
Um enorme sino de bronze anuncia os horários de
puja: quando o sol nasce e quando o sol se põe. Nesse
horário, os devotos chegam para cantar mantras.
A “bannyan tree” é uma árvore muito conhecida na
Índia. Em Madras, na Sociedade Teosófica, ela cresceu tanto que atualmente é
objeto de turismo. Ocupa o espaço de uma grande praça.
Hoje estou sentada em frente a uma bannyan tree aqui
em Mont Abu, no hotel onde estou hospedada. O cansaço das várias viagens tirou
minha energia, e a comida apimentada atacou meu fígado. Procurei um lugar onde
a natureza pudesse me refazer. O velhinho veio atrás de mim com uma cadeira. A
bannyan tree se desdobra em várias árvores, vindas do tronco principal – as
raízes se enroscam nas pedras, continuam por debaixo delas, surgindo novamente
da terra, num abraço compassivo da natureza. Aqui, cercada de árvores vindas da
mesma árvore central, eu me sinto dentro de um templo. Os galhos se
multiplicam, vindos da mesma terra, e abrigam as pessoas que chegam. A fonte é
a mesma e a natureza nos ensina a cada instante que viemos do mesmo tronco...
cada um de nós encontra o seu templo em qualquer lugar do mundo.
Vimala Thakar nos recebeu em sua casa em Mount Abu.
Viemos até aqui atraídas por sua vibração. Há muitos anos desejava encontrá-la.
Não é fácil encontrar uma pessoa cuja presença seja realmente transformadora.
Os seres espiritualmente adiantados nos recebem, estão prontos a nos ajudar,
mas nada fazem para nos prender. Vimala já percorreu vários países do mundo
fazendo palestras sobre a necessidade de uma transformação completa do ser
humano. O toque incisivo, penetrante, de Krishnamurti se faz notar em seus
escritos. Vimala foi profundamente marcada pelos ensinamentos desse grande pensador indiano. Ela não fala
para multidões. Recebe em sua casa pequenos grupos interessados no crescimento
interior. Pessoas chegam de diversas partes do mundo para este recanto isolado
de Mount Abu, longe do burburinho da cidade. Vimala iniciou seu trabalho como
seguidora de Gandhi. (diário de viagem, 1993)
Fotos da internet
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segunda-feira, 26 de outubro de 2015
MOUNT ABU I
Descemos as escadarias de pedra com nossa bagagem. O
taxi nos espera em baixo. Seguimos hoje para Mount Abu.
Lá vem um camelo carregando palha, figuras sentadas
no mercado, vendendo coisas coloridas. A despedida de Udaipur é a certeza do
retorno um dia.
A paisagem do Rajastão anuncia a proximidade do
deserto, vegetação rasteira, cactus, terra amarela, montanhas de pedra. Há
lagos na redondeza que fertilizam a terra e o verde rasteiro do trigo se
estende como um tapete.
“Please
horn”, “Por favor, buzine”, estamos subindo a montanha.
Em Udaipur não pudemos marcar o voo de volta.
Defeito no computador. Um defeito no computador faz parar os voos, agora
estamos parados na estrada, alguma coisa aconteceu pelo caminho. Escuto o vozerio
e o barulho do caminhão, na curva, carregando canos. O caminhão é imenso, os
canos devem ser pesados e a curva é fechada. O caminho foi bloqueado. Letreiros
coloridos em caligrafia híndi passam através das vidraças do carro. Nosso carro
parou para deixar passar um rebanho de carneiros conduzidos por um jovem pastor,
os carneiros seguem o comando dos pastores.
Há 10 anos aqui estive com Cláudia e Ferolla. Estou
me lembrando das curvas, do ônibus apinhado, a gente sufocada na bagagem. Ferolla
providenciou tudo e nós o seguimos como carneiros. Não tínhamos de pensar em
nada, apenas segui-lo. Ele providenciou passagens, hotéis, era o nosso guia.
Quando chegamos a Goa resolvi parar.
“Vocês seguem sozinhos, eu fico.”
Foi em Goa que iniciei meu trabalho.
Aqui estou de novo, em Mount Abu, o sol a pino,
sofrendo os atropelos da viagem. Buracos no caminho, curvas e mais curvas...
Chegamos exaustas no alto da montanha.
“Queremos um lugar de paz, sem aglomerações, sem
rickshaws.”
O motorista nos conduziu para este recanto. Veio nos
receber um velhinho moreno, magro, bigodes enormes, sorriso franco. Os galhos
das árvores e as mãos do velho se harmonizavam no mesmo impulso, pareciam
alimentados com a mesma seiva. O velho era parte integrante daquela natureza.
Gostamos do lugar.
Mr. Thakur é o encarregado deste pequeno recanto
residencial, casa de campo do Marajá de Jodhpur, agora transformada em hotel.
Na casa de baixo os quartos são mais caros e nas salas, os retratos da família
nos contam a história da nobreza e decadência dos marajás.
“Os Maharajás reinavam sobre os estados da Índia.
Indira Gandhi destituiu-lhes o poder. Agora eles conservam a propriedade, mas,
para sobreviverem, têm de transformá-las em hotéis e museus.”
Interessei-me
pela vida dos marajás porque esta palavra foi muito usada no Brasil. As
histórias do velhinho são baseadas em sua própria experiência. Mr. Thakur trabalhou
para três gerações de marajás.
“Meus patrões eram ótimas pessoas, tratavam o povo
como uma única família. Percorriam as vilas para socorrer os necessitados,
estimulavam as artes.”
Mr. Thakur tem 81 anos e ainda trabalha, batendo
papo com os visitantes que chegam, tomando um chazinho na varanda e contando
histórias do passado.
“Estou aqui para fazer os hóspedes se sentirem em
casa.” Na realidade, o ambiente acolhedor de Mount Abu é
um oásis no meu cansaço das viagens.(Diário de viagem, 1993)
*Fotos da internet
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segunda-feira, 19 de outubro de 2015
ENCONTROS NA ÍNDIA
Nas minhas viagens à Índia costumava me
hospedar em Adyar, onde está situada a
Fundação Krishnamurti. Ali estive várias vezes estudando os ensinamentos do
grande mestre indiano.
Em 1993 conheci o médico de Krishnamurti.
Sentou-se ao meu lado no refeitório, queria saber
sobre o Brasil, nosso povo, o governo (as notícias de Collor atravessaram as
fronteiras através da BBC). Interessou-se por minha pesquisa de aproximação
Oriente- Ocidente, estava aberto a me escutar.
Não precisei marcar consulta. Ele me atendeu ali
mesmo, debaixo da árvore, deu-me exercícios para a coluna. Eu estava viajando o
tempo todo com um problema no ombro esquerdo devido a um acidente no Brasil
(frozen-shoulder). O Dr. Parchure acompanhou Krishnamurti em suas viagens,
aliviando-lhe as tensões da coluna com massagens e exercícios corporais. As
pessoas que conviveram pessoalmente com Krishnamurti conseguiram alcançar um
plano de intuição bem desenvolvido e aquele médico estava me dando conselhos
importantes para seguir viagem.
Mais tarde o secretário da Fundação
Krishnamurti me procurou. Organizou, a
meu pedido, uma dinâmica de grupo, e, sentados no grande salão central do
edifício, discutimos sobre a violência. A violência não é uma coisa à parte,
exterior a nós, ela está dentro de cada ser humano, vem à tona sempre que o ego
é atingido por algum desafio, seja uma palavra ou uma ideologia contrária à
nossa. Reagimos violentamente quando nossas estruturas de segurança se sentem
atingidas. A violência está na raiz de nossa própria mente e a única forma de
não compartilhar com a violência do mundo é observar seus movimentos dentro de
nós mesmos, sentir o sangue esquentando nas veias quando a pessoa ao lado
atinge o nosso ego.
Esses exercícios de dinâmica de grupo eram feitos
periodicamente entre jovens e adultos, afim de facilitar o relacionamento
humano.
Em seguida, um artista de Kerala que estava me
fazendo massagens, convidou-me para fazer palestras sobre arte em sua escola em
Cochin, cujo tema seria a integração cultural entre os ensinamentos dos mestres
orientais e o desenvolvimento artístico do mundo ocidental.
“Cada um de nós foi chamado para desenvolver um
trabalho em determinado raio”, nos diz ele. “Ninguém é perfeito. Somos seres
humanos diferentes e a iluminação não é privilégio nem do Oriente nem do Ocidente. O importante é estar aberto para a
intuição, o chamado interno que nos chega a cada instante”.
Realmente, é preciso ultrapassar os limites do
pensamento lógico para que a mente compassiva possa se manifestar. Quando
alcançamos a mente compassiva, os apegos e aversões se diluem.
“Estou sentindo uma vibração muito boa, vinda de
você, deve ser de outras vidas”, me disse ele. A lei do Carma promove o encontro com alguém ligado ao nosso
passado, apenas para nos dizer uma palavra e nos olhar de forma compreensiva e
amiga. Neste momento, não existe separação de raça, credo ou sexo. Não existe
Oriente-Ocidente, norte ou sul. Somos habitantes do mesmo planeta e estamos
sendo tocados pelo mesmo chamado interno...
*Fotos de Maurício Andrés e da internet
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ARTISTA”, CUJO LINK ESTÁ NESTA PÁGINA
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